Sinceramente, estou quase certo de que Redes Sociais e futebol não combinam. É o fim da picada torcedor (ou pseudo-torcedor) querer comparar Sampaoli ao Lisca, e dizer que o Galo tinha a obrigação de ser campeão brasileiro este ano, por conta do investimento (lembrando que, desde o início o projeto era para o ano que vem).
Insisto e
repito: o time do São Paulo não é nada demais, mas a cobrança que o torcedor do
Galo faz é absurda. Aliás, basta lembrar que o São Paulo esteve para demitir o
treinador e não o fez, agora colhe os frutos. De toda forma, insisto que dos
pontos perdidos pelo Galo fiquei muito puto no empate do jogo contra o Inter e
a derrota para o Bahia. Contra o São Paulo e Palmeiras, coloco na conta do
Sampa, outras, como contra o Botafogo, Sport e Fluminense não dá para não falar
em azar.
Isto posto, vou
colocar o jogo dos 7 erros do Galo.
1 – Escalações contra Palmeiras e São Paulo
Depois que o
América arrancou um empate contra o Palmeiras, tinha nego no Twitter tendo
orgasmos pelo Lisca dizendo que ele melhor que o Sampaoli. Não precisa ser
nenhum gênio para entender que uma coisa não tem nada com a outra. Primeiro
porque Copa do Brasil é mata-mata, segundo porque era outro Palmeiras.
Se o Galo
entrasse contra o Palmeiras como o América entrou, na melhor das hipóteses
seria um zero a zero dos bens ruins. No mata-mata o Palmeiras era obrigado a
sair para jogar. Sem contar, que, quando enfrentou o Galo, o Abel Ferreira mal
tinha chegado e o Palmeiras era um time que, basicamente, jogava por uma bola. O
erro do Galo foi justamente não entender que o Palmeiras queria o contra-ataque
rápido, ou seja, a zaga não podia ser lenta com Rabello e Réver. Ali era jogo
para o Gabriel e para um meio que criasse, mas que fosse capaz de proteger dos
contra-ataques.
Contra o São
Paulo a questão é mais complexa. Não é o Calebe (na foto), não é A, B ou C. É a ideia. E
eu falei isso antes do Galo tomar o primeiro gol. A grande questão é que com os
dois laterais e três zagueiros, o Galo não jogou no 3-4-3. Ele jogou no 5-2-3.
Perdeu o meio de campo. Pior: não havia a menor necessidade dos três zagueiros.
Eu mesmo falei com meu pai no início do lance que deu origem ao primeiro gol do
São Paulo: olha, com um zagueiro a menos, o São Paulo pode pegar um jogador de
meio para fazer a saída. Com três zagueiros, o Galo perde completamente a saída
de bola. Não adianta colocar um tanto de atacantes. Dito e feito.
E não precisava
ser o Calebe: simplesmente não dá para jogar com dois jogadores de meio de
campo.
2 – O foco nos outros
A grama do
vizinho é sempre mais verde. No caso do Galo é sempre MUITO mais verde. Sou
muito fã do Lisca. Mas vocês acharem que o Lisca é melhor do que o Sampaoli,
vocês só podem estar de sacanagem comigo, não tem explicação. Não é só isso: é
incrível como as pessoas têm capacidade de ver qualidades no time do São Paulo,
onde não tem.
Ninguém lembra
que o São Paulo, dos líderes, é o único que não teve surto de Covid. Ainda deu
a sorte de todos os jogos que foram adiados foram realizados em um momento
melhor do que seria o jogo original. Claro que o São Paulo pode ser campeão,
mas está longe de ser essa maravilha. Além, claro, da confiança – que é 60% no
futebol -, e alguns benefícios incríveis, como o passe livre do Daniel Alves
para bater e reclamar. Aliás, depois daquela confusão do VAR contra o Galo, os
árbitros mudaram completamente o comportamento contra o São Paulo. Pressão
funcionou.
E isso acontece há
tempos, com jogadores então nem se fala. Quando se falou na saída do Cazares,
falaram em troca com o Scarpa ou com o Lucas Lima, até mesmo com Diego Ribas.
Eu te pergunto: qual deles está em paz com sua torcida? Nenhum. Me lembro há uns anos, quando a torcida
estava pegando no pé do Dátolo (sim, apesar do saudosismo de todos, muitos o
xingavam bastante quando ele jogava), meu amigo carioca e flamenguista não
entendia: “cara, ele joga demais, queria ele no mengão”. De fato, não é um fenômeno da torcida do
Galo: Arboleda do São Paulo foi execrado, e hoje é titular. O Reinaldo, teve
que ficar emprestado não sei quantas temporadas, hoje é o “KingNaldo”... O
ponto é: a grama dos outros é sempre mais verde (em agosto os são paulinos
queriam o Diniz queimando no inferno). Então, esqueçam os outros.
3 – Entender o pacote
George Sampaoli
é um grande treinador, da escola Bielsa. Tem uma ideia de futebol clara e
lembrem-se daqueles tempos de Twitter que todo mundo postava “é por isso que o
Sampaoli ganha R$ 1 milhão e eu não”. Ele não é imune às críticas, basta ver o
tópico 1 deste post, mas você não pode ter o Sampaoli e esperar o Mano Menezes.
Por exemplo, o
Galo demitiu o Dudamel porque ele foi o Dudamel. Não é possível que ninguém
pesquisou, ou perguntou ao Otero como ele era. É rígido, difícil trato,
relacionamento complicado com os jogadores. Falei muitas vezes aqui ano passado
(quando das comparações) e repeti este ano: em 2019, o Santos do Sampaoli,
vice-campeão brasileiro, tomou de 5 do Ituano, foi eliminado da Sul-americana
na primeira fase para o River do Uruguai, e da Copa do Brasil pelo Galo. Aliás,
se não me falha a memória, em 4 confrontos contra o Rodrigo Santana, ganhou um,
empatou um e perdeu dois.
A escola dele é a
mesma do Bielsa. Se vocês acompanham a Premier League, vai entender bem: ele
subiu o Leeds ano passado. É ídolo. Este ano, faz uma campanha digna e tenta
jogar de igual para igual contra qualquer um, basta ver a derrota, sofrida, de
4 x 3 para o Liverpool – infinitamente superior. Mas, quando tem falhas individuais,
na frente (perdendo gols), atrás, nas saídas ou no posicionamento, perde com
gosto: levou 6 x 2 do Manchester.
Não criticarei o
Sampaoli nunca por ser do esquema perdido por 1 perdido por 1000, e nunca
aceitar o empate. Isso está no pacote. Vejamos outro exemplo. Santos 3 x 1 Atlético.
O Galo ficou com um a menos e tomou um gol. Logo após, empatou. Qualquer
treinador se daria por satisfeito. Sampaoli continuou atacando, criou chances.
Tomou o segundo e, na bacia das almas, o terceiro. Não esperem que ele vá
reduzir o ritmo do tipo: não quero sofrer goleada.
Outra coisa, e
isso é irritante em comentaristas que não estudam futebol, é o tal jogo
posicional. Ele, Bielsa, Guardiola e tantos outros são adeptos a este tipo de
jogo. O nome já diz: o jogador tem que guardar sua posição. Ele não joga abrindo
espaços com a movimentação dos jogadores, mas com a bola. O jogador precisa guardar
a sua posição para chamar a marcação, ainda que participe menos do jogo. Não é,
por exemplo, como o time do Cuca, em que os jogadores correm muito mais, porque
não guardam posição. É questão de estilo. Agora, se você não gosta do posicional,
não deveria contratar um dos expoentes neste estilo de jogo.
4 – A bipolaridade
O torcedor do
Galo é bipolar por natureza. Pense: o Galo perdeu pontos que não deveria, mas
ganhou outros que, em tese, não estava na programação: Flamengo no Maracanã,
por exemplo. Pela primeira vez, ganhamos dos Corinthians fora.
Depois de uma vitória
dessas, o Galo é o melhor do mundo, campeão, “segue o líder”. Se perde, é uma
bosta. Lisca para treinador, o trabalho é horrível. Nem tanto ao mar, nem tanto
à terra. Futebol é um jogo, envolve muita coisa, inclusive psicológico.
Aliás, na hora
positiva da bipolaridade, a empolgação beira à arrogância da URT do Barro
Preto. “Segue o líder”?! Para com isso, né. Aliás, o campeonato tem 38 rodadas.
Antes disso, não tem campeão. Não tem campeão “ganhando é líder”, “perdendo é líder”,
“empatando é líder”. Aliás, nem o São Paulo já é campeão.
5 – Cair na onda da imprensa
A imprensa,
principalmente a “caça-cliques” é uma bosta. Cansei de falar aqui: as desgraças
vendem mais e rendem mais cliques. Esses influencers estão interessados no
próprio umbigo, não estão nem aí para o Galo. Eles colocam pressão em
treinador, mobiliza um bando de torcedores e o resultado estamos vendo há um
tempo: trocas inúteis de treinadores, saídas de jogadores que não deveriam sair
e por aí vai.
Mas, aqui, o
recado ultrapassa a pseudo imprensa de mídia digital. Um recado importante
sobre a imprensa tradicional, dividindo em duas: a mineira e a de fora. Começando
pela mineira. Eles estão perdendo a vergonha de serem os maiores Engenheiros de
Obra Pronta da humanidade. Eles falam EXATAMENTE o que o torcedor, sobretudo os
mais exaltados, querem ouvir. Eles alimentam a bipolaridade do torcedor e são resultadistas
ao extremo.
Para não o
impregnar com a emoção atleticana, vamos pegar o exemplo da URT do Barro Preto.
Felipão chegou e começou a fazer pontos. Os caras no rádio e na TV falavam como
se ele fosse o novo Telê: “tem que fazer é isso mesmo”, “tinha que ter vindo
antes”. Não viam o óbvio, que o time não jogava bem, mas dava sorte. O cara
começou a perder: “o time com ele nunca jogou bem”, “será que ele é capaz de
fazer o time jogar”, “eu sempre falei que esse jeito não daria”. Juro, que
essas frases foram todas retiradas de um programa e ditas pelas mesmas pessoas antes
e depois de jogos do Cruzeiro.
Com o Galo não é
diferente. Ninguém é imune a críticas, ok? Agora incoerência não é crítica,
jogar para galera não é crítica. É criar crise, buscar a audiência a qualquer
custo. A imprensa mineira hoje se comporta como torcedora (não necessariamente porque
torce, mas porque muita gente não quer ser informado ou ouvir análise: quer
ouvir alguém que concorde com eles): ganhou é gênio, perdeu é uma besta.
A imprensa do
eixo se comporta diferente. Não são engenheiros de obra pronta, são geradores
do caos. Basta um time de fora do eixo Rio-SP assumir um papel de destaque na
competição e começa o bombardeio de más notícias. Não é só com o Galo. Quando o
Inter foi líder, era um bombardeio diário de crises. Sim, os caras tentam
implantar crises e até jogar a torcida contra. Nos melhores momentos do Galo,
era bizarro assistir as mesas redondas da TV à cabo. O Atlético não ganhou duas
vezes do Flamengo. O Flamengo perdeu duas vezes para o Atlético e, segundo
eles, o Galo não jogava nada.
Acontecia
qualquer coisa: Sampaoli vai sair do Atlético. Jogadores insatisfeitos com o
Alexandre Mattos. Salário atrasado. Atlético deve não sei quanto. Rubão exige
não sei o quê. Aí, tem jornalista falando que não notícia não tem timing.
Concordo, não tem. O interessante que elas só surgem quando o time está no
auge... Coincidência?
6 – O mito dos milhões
NADA MAIS
IRRITANTE. O Atlético tem que ser campeão por gastou R$200 milhões. Falácia do
caralho implantada principalmente pela imprensa do eixo. O Atlético gastou R$
200 milhões porque teve de refazer um time do zero. Do ano passado, que jogam
com alguma regularidade, temos: Guga, Réver, Rabello e Jair. Todos os outros
vieram este ano. É claro que se você tem que começar um time do zero vai gastar
mais do que contratando pontualmente para um time pronto que já joga junto há
um tempo.
Pegue o valor de
elenco no Transfermarket de Atlético, Palmeiras, Flamengo e São Paulo. Veja
quanto eles gastaram ao longo dos anos para montarem esses elencos. É óbvio que
não gastariam R$ 200 milhões em 20 jogadores. Eles não precisavam de 20
jogadores. Agora, para quem gosta de valores, o Gabriel Barbosa custou ao
Flamengo em 2019 R$ 116 milhões. O Pedro vai custar em 2021 R$ 83 milhões. Faz a
conta: dois jogadores do Flamengo custaram o investimento do Atlético em 2020.
Detalhe: o Pablo, reserva do São Paulo, custou, sozinho R$ 31 milhões.
Obviamente, com
tantos novos jogadores, você vai levar um tempo para ajustar o time. Os
concorrentes estão com times montados, fizeram uma ou outra contratação pontual.
7 – Expectativa Vs. Realidade
Alguns
treinadores do Galo têm sido vítimas do próprio sucesso. Thiago Larghi, com um
elenco limitado, que todos sabiam que estava fora de posição quando chegou a
disputar a liderança, criou uma expectativa que ficaria no topo até o final e,
quando caiu na realidade, foi demitido.
Desde o início
do ano, com a contratação de jogadores jovens, a montagem de um elenco e de um
time, a implementação de uma filosofia (coisas que demandam tempo), o plano era
Libertadores 2020 e brigar pelo título em 2021 (sempre brigar, não há obrigação
e garantia de título do Brasileirão).
Acontece que o
Galo está brigando pelo título. Sim, continua brigando. E a expectativa, associada
pela ansiedade de ganhar o Brasileirão (eu mesmo, hoje, prefiro ser bicampeão do
Brasileiro do que da Copa do Brasil ou da Libertadores, afinal foi o único título
que eu não via), subiu. O torcedor criou uma esperança para além daquela que
tinha antes, ou seja, o Galo aumentou o próprio sarrafo e acabou virando vítima
do próprio sucesso – confesso que nessas horas acho até bom não ter público,
porque o número de modinhas vaiadores na arquibancada seriam muitos.
Ora, me
respondam, se no início do ano falassem contigo: “não precisa disputar o Brasileirão
2020. Vocês podem ficar com o 2º ou 3º lugar, pode ser?”. Você,
realisticamente, negaria? Estou certo de que não. Então, calma. Tudo leva
tempo. Aliás, vocês acham coincidência que dos quatro semifinalistas da Copa do
Brasil, três tenham iniciaram o ano com o mesmo técnico? O que o atual líder do
Brasileirão tem o segundo trabalho mais longevo da primeira divisão? E olha que
ele balançou.
Então, gente,
menos emoção e mais razão. Se der este ano, lindo. Se não der, 2021 tem mais.
E, se Deus quiser, com vacina, porque eu quero ver o Galo Campeão Brasileiro in
locu.