segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O último suspiro do Clássico


Torcida do Galo indo pela Antônio Carlos, eu, por morar perto da Catalão, descia a Américo Vespúcio até chegar à Antônio Carlos para ir para o Mineirão. As meninas indo pela Carlos Luz. Reunião no postinho e depois entrar pelos portões 9 e 12, atrás do gol da Lagoa e fazer a festa. O habitual empurra as bichas e, como usual, calar a boca das meninas, em um espetáculo preto e branco de um lado do estádio. Do outro lado, de costas para a cidade, a torcida do Cruzeiro assistindo boquiaberta nossa festa.

Ao final da partida, quando feliz, voltava buzinando para casa, ansioso para ver os gols e os comentários na TV e na net. Quando triste, revoltado, nem ligava o rádio e me enclausurava no quarto jogando algum game até segunda feira, pois Domingo de clássico é domingo sem dormir, não interessa qual o resultado. É adrenalina demais para conseguir dormir.

Infelizmente, e somente por conta de uma intervenção do governador, dia 03 de fevereiro, ao que tudo indica, será a última vez que o clássico tradicional, clássico, por assim dizer, vai acontecer. Depois disso, vai iniciar uma era de aberrações com jogos em que apenas 10% será da torcida visitante. Sim uma aberração. Há quem diga que isso já acontece em outros lugares, mas que se dane os outros. Não há razões para mudarmos uma tradição tão boa do futebol mineiro que é o clássico com as duas torcidas dividindo o estádio. Seja onde for. No Mineirão, nem precisamos nos prender na viabilidade, uma vez que, desde que o estádio existe os clássicos eram feitos sem maiores incidentes com as duas torcidas.

Colocaram, então, a culpa no Horto, no Independência, que só poderia receber 10% de torcedores adversários. Não sou expert em segurança, mas creio que isolar uma rua inteira é mais fácil, deixando a Ismênia e a Silviano Brandão para o visitante e a Pitangui e o metrô para o mandante, que isolar 10% de rivais em meio a um mar de torcedores naquele beco entre a ismênia e a Pitangui. Em caso de tumulto, aconteceria um massacre. Além disso, já visitei pessoalmente alguns estádios famosos que recebem duas torcidas, e de todos os que estive - entre os relevantes - apenas o Centenário de Montevidéu, que fica em uma parque, tem um acesso e uma área externa que lembra o Mineirão. Os outros, como o Maracanã, Engenhão, La Bombonera e o Monumental de Nuñez ficam em bairros com ruas tão estreitas quanto às do Horto com acessos até mais difíceis que os do Indepa.

Se não é o Horto, a culpa é do sócio torcedor. Mas até o fechamento do Mineirão os programas de sócio funcionavam perfeitamente excluindo o clássico. Contudo estão decididos: querem acabar com o futebol, inflacionando preços, selecionando o público, excluindo bandeiras, fogos, tirando a torcida. E isso em nome da vaidade e dos egos de nossos dirigentes e das administradoras de estádio. Não excluo o Kalil, que, diversas vezes mete os pés pelas mãos por vaidade ou para jogar para a torcida. Essa de 10%, por exemplo, credito ao nosso mandatário. Que, por outro lado, está certo em recusar o contrato ridículo proposto pela Minas Arena, que o Gilvan aceitou para jogar para torcida em resposta ao contrato que o Kalil fez com a BWA. 

O futebol é nosso, é da torcida e esse jogo de vaidade para ficar de bem com a arquibancada só faz prejudicar o nosso futebol. Não tentem reinventar a roda, não acabem com o melhor clássico do Brasil, pois clássico que se preze tem que ser assim: duas torcidas dividindo o estádio, a não ser que uma abdique de ir. Nos bons tempos, a disputa no clássico começava na bilheteria, com os jornais divulgando quantos ingressos cada uma das torcidas tinham comprado e todos na expectativa de quem seria a maioria no Mineirão. Bons tempos…