Somos passionais, apaixonados,
fissurados pelo nosso time. A vitória e a derrota definem o nosso humor até o dia da
próxima partida. Durante os 90 minutos de uma partida somos emoção à flor da
pele. No dia seguinte, porém, felizes ou tristes pelo nosso time, voltamos aos
nossos trabalhos, estudos, afazeres, nossas famílias, namoradas, enfim.
Por mais que fiquemos irascíveis durante uma partida, quanto mais próximo for o
rival, maior chance de termos conhecidos, parentes, amigos do outro lado da
arquibancada, afinal, gosto não se discute. E mesmo que não tenha ninguém
conhecido do outro lado, assim como no nosso, estão pais de família, crianças,
estudantes, trabalhadores. Cidadãos comuns, como a gente.
Nunca gostei nem vou gostar do
Corinthians, também não sou tão burro ao ponto de generalizar uma massa de
milhões, por causa de uns marginais. Vivemos no país do futebol, bandidos,
políticos, corruptos, autoridades, celebridades, padres, pastores, todos têm
seu time. Do mesmo modo que todas as torcidas têm seus bandidos, seus babacas,
seus religiosos. De qualquer forma, a maioria dos corinthianos, bem como a
maioria de nós brasileiros, estamos envergonhados com a tragédia acontecida na
Bolívia na última quarta feira.
Uma criança, um menino de apenas
14 anos vítima da estupidez humana. O seu único crime era torcer fanaticamente
pelo San Jose de Oruro e estar no lugar errado. Aliás, ele não estava no lugar
errado. Quem estava no lugar errado eram os marginais responsáveis pela
tragédia, pois estádio não é lugar para bandido, é lugar para gente como Kevin, um torcedor que, como a maioria, só queria apoiar e ver seu time. Foi o jovem boliviano Kevin,
mas poderia ser qualquer um de nós, ou um amigo, um parente. E tem que se ter
uma punição, tanto individualizada, aos criminosos responsáveis pela morte covarde de um garoto de 14 anos, e para o clube, que, embora não
tenha nada com isso, e que indiretamente penaliza milhares de inocentes, é uma forma de prevenir
que outros imbecis façam o mesmo.
O futebol está de luto, os clubes
da América do Sul, sobretudo do Brasil, deveria, ao menos como consideração,
prestar suas homenagens ao jovem boliviano. Futebol, como disse o próprio
dirigente do Corinthians, não é apenas sobre perder ou ganhar. E nosso querido futebol morreu um pouco junto com o
jovem Kevin, e todos nós que amamos esse esporte estamos de luto pela
transformação do espetáculo que amamos em uma praça de guerra.