quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O Homem de Gelo


O Ronaldinho é o gênio. Pierre, o mito. Tardelli o ídolo, Bernard  a revelação. Além disso, o Marcos Rocha e a dupla de zaga são os atuais melhores do Brasil. O Jô é o atacante tático, que ganha todas pelo alto. O Donizete é o responsável pela saída de bola e o Júnior César a solução para o antigo problema crônico da lateral esquerda. Até o novo contratado Luan aparece como a surpresa. Valorizações justas, que merecem destaque e todo o reconhecimento da torcida e da imprensa, isso é fato consumado. Mas nada disso interessaria se não fosse pelo Homem de Gelo.

Isolado em uma extremidade de campo, está ele. Sempre frio, calmo, seguro, discreto, atento, preparado para qualquer eventualidade. Ele, o Homem de Gelo, Victor, um grande goleiro, jogador de seleção, devolveu a meta atleticana a segurança que havíamos perdido em 2008, quando Diego Alves deixou o Galo para ir atuar no Almería, da Espanha.  Desde o Diego, muitos passaram, mas nenhum se firmou. Alguns, como o próprio Renan Ribeiro, até bons tecnicamente, entretanto, nenhum com a frieza e a discrição necessárias para suportar as crises e se manter sempre sóbrio.

Não é infalível, como podemos relembrar, aliás uma das poucas falhas dele na meta alvinegra, no jogo contra a Portuguesa no Canindé. Mas ele tem crédito. E seu crédito só aumenta. Muito embora suas atuações acabem sendo discretas, já que o Galo, muitas vezes, não dá espaço para o adversário atacar; ele, quando exigido, está lá. No jogo contra o Araxá, por exemplo, até o final do segundo tempo, ele não havia tocado na bola. Eis então que uma venenosa cobrança de falta de Breitner, promissor jogador do Santos emprestado ao clube mineiro, vai em direção a meta atleticana. Naquele momento, em que a falha era perdoável, Victor poderia estar desconcentrado, pensando na Libertadores, até mesmo frio, já que não tinha sido exigido; ele estava atento e fez uma bela defesa, a única no jogo todo.

Pode ser que a frieza e a discrição de Victor, dentro de campo e fora dele, associado à fase espetacular do Diego Cavalieri, muito mais exigido, tenham prejudicado o goleiro em termos de seleção brasileira. Mas, dentro de campo, esse comportamento só aumenta a segurança e a credibilidade do Homem de Gelo. Este ano o Victor já fez ao menos duas atuações espetaculares, ofuscadas pela derrota para o Cruzeiro, e pelo brilhante jogo do R10 contra o São Paulo. Estive no Mineirão e vi o Victor fazer ao menos 3 ou 4 defesas cinematográficas, que impediram que o resultado do último jogo treino da pré-temporada fosse pior.

Contra o São Paulo, Luis Fabiano recebeu uma bola, idêntica a que recebeu no Morumbi, no primeiro turno do Brasileirão 2012, e chutou da mesma maneira do que naquele campeonato. A diferença foi que no Morumbi o goleiro era o Giovanni, que, embora seja um bom reserva, não teve a frieza e a categoria que o Victor esbanjou no Independência. Uma defesa espetacular, que, ao final, garantiria a vitória no Independência. Não estou dizendo que a torcida e a imprensa não reconhecem o trabalho do Victor, pelo contrário. Mas, convenhamos, o BRT, e toda magia do time atleticano, considerado pela imprensa carioca e paulista como o time mais mágico do Brasil (não o mais competitivo) não teriam esse sucesso não fosse o Homem de Gelo que mantém a segura à meta alvinegra.