O Ronaldinho é o gênio. Pierre, o
mito. Tardelli o ídolo, Bernard a revelação. Além disso, o Marcos Rocha e
a dupla de zaga são os atuais melhores do Brasil. O Jô é o atacante tático,
que ganha todas pelo alto. O Donizete é o responsável pela saída de bola e o
Júnior César a solução para o antigo problema crônico da lateral esquerda. Até o
novo contratado Luan aparece como a surpresa. Valorizações justas, que
merecem destaque e todo o reconhecimento da torcida e da imprensa, isso é fato
consumado. Mas nada disso interessaria se não fosse pelo Homem de Gelo.
Isolado em uma extremidade de
campo, está ele. Sempre frio, calmo, seguro, discreto, atento, preparado para
qualquer eventualidade. Ele, o Homem de Gelo, Victor, um grande goleiro,
jogador de seleção, devolveu a meta atleticana a segurança que havíamos perdido
em 2008, quando Diego Alves deixou o Galo para ir atuar no Almería, da Espanha.
Desde o Diego, muitos passaram, mas
nenhum se firmou. Alguns, como o próprio Renan Ribeiro, até bons tecnicamente,
entretanto, nenhum com a frieza e a discrição necessárias para suportar as
crises e se manter sempre sóbrio.
Não é infalível, como podemos
relembrar, aliás uma das poucas falhas dele na meta alvinegra, no jogo contra a
Portuguesa no Canindé. Mas ele tem crédito. E seu crédito só aumenta. Muito
embora suas atuações acabem sendo discretas, já que o Galo, muitas vezes, não
dá espaço para o adversário atacar; ele, quando exigido, está lá. No jogo
contra o Araxá, por exemplo, até o final do segundo tempo, ele não havia tocado
na bola. Eis então que uma venenosa cobrança de falta de Breitner, promissor
jogador do Santos emprestado ao clube mineiro, vai em direção a meta
atleticana. Naquele momento, em que a falha era perdoável, Victor poderia estar
desconcentrado, pensando na Libertadores, até mesmo frio, já que não tinha sido
exigido; ele estava atento e fez uma bela defesa, a única no jogo
todo.
Pode ser que a frieza e a
discrição de Victor, dentro de campo e fora dele, associado à fase espetacular
do Diego Cavalieri, muito mais exigido, tenham prejudicado o goleiro em termos
de seleção brasileira. Mas, dentro de campo, esse comportamento só aumenta a
segurança e a credibilidade do Homem de Gelo. Este ano o Victor já fez ao menos
duas atuações espetaculares, ofuscadas pela derrota para o Cruzeiro, e pelo
brilhante jogo do R10 contra o São Paulo. Estive no Mineirão e vi o Victor fazer ao menos 3 ou 4
defesas cinematográficas, que impediram que o resultado do último jogo treino
da pré-temporada fosse pior.
Contra o São Paulo, Luis Fabiano
recebeu uma bola, idêntica a que recebeu no Morumbi, no primeiro turno do
Brasileirão 2012, e chutou da mesma maneira do que naquele campeonato. A
diferença foi que no Morumbi o goleiro era o Giovanni, que, embora seja um bom
reserva, não teve a frieza e a categoria que o Victor esbanjou no
Independência. Uma defesa espetacular, que, ao final, garantiria a vitória no Independência. Não estou dizendo que a torcida e a imprensa não reconhecem o trabalho do Victor, pelo contrário. Mas,
convenhamos, o BRT, e toda magia do time atleticano, considerado pela imprensa
carioca e paulista como o time mais mágico do Brasil (não o mais competitivo)
não teriam esse sucesso não fosse o Homem de Gelo que mantém a segura à meta
alvinegra.