Somos uma nação de milhões, mas, sinceramente tem horas que
eu preferia que fossem milhares. Os milhares que lotam estádios em todos os
jogos, que, fiéis, sempre vão ao campo, independentemente da fase do time, apoiam,
vibram e que sabem que, seja lá quem estiver em campo está, antes de qualquer
coisa usando o manto alvinegro. Pessoas que vão ao estádio para vibrar, pular,
cantar, gente que não aguenta, por pura paixão se assentar durante uma partida.
Gente incapaz de vaiar um jogador durante o jogo, que dificilmente assistem a
um jogo em casa, que se sentem mal quando, por um motivo ou outro, não pode ir
ao estádio. Gente que, às vezes, por ironia do destino, acompanha o time nas
mais diversas situações, nos piores momentos e que, nas melhores horas, nas
melhores partidas, muitas vezes ficam de fora.
Nada contra os torcedores de radinho, que preferem ficar em
casa ou no bar, vendo o jogo tomando cerveja e que adora futebol quando o time
está bem. Nada contra, mas essas pessoas não combinam com a massa, especialmente
a massa que vai ao campo. Ontem no Mineirão, em dia pouco inspirado, que está
longe de ser a crise que os rivais, e, principalmente, a imprensa do Rio e São
Paulo está querendo criar no Galo, tinha muito desses torcedores, torcedores de
radinho, torcedores de seleção brasileira. Não era a maioria, é verdade, como
provou a sonora vaia que o sistema de som da Minas Arena pediu aos torcedores
que assistissem ao jogo sentados (à merda com essas arenas e com a europeização
do futebol). Entretanto era compreensível que ontem muita gente assim fosse ao
campo, já que o Mineirão era um fato novo. No primeiro jogo, muitas dessas
pessoas, que costumam temer clássicos, prefiram ficar em casa. Ontem era
tranquilo, então gente que não costuma a ir ao estádio, foi.
Habitualmente esse tipo de torcedor é o mais mala. Se deixa
levar pela opinião dos cronistas esportivos, os idolatram e compram toda e
qualquer bobagem colocada a eles. São extremamente críticos e, como torcedores
de seleção brasileira, acham que tudo é sempre fácil. As vaias ao Guilherme
ontem, por exemplo, foram patéticas. Eu, ao contrário, estive no coro que
gritou o nome do jogador, que, pode não ter sido brilhante, mas também não
esteve abaixo de nenhum outro jogador do Atlético. Pior é ter que ver o Leleu
substituí-lo. Marcos Rocha, que, desde que convocado não atua bem, também foi
vaiado. Compreensível pela atuação, embora eu jamais vaie um jogador enquanto
ele está em campo, mas, ainda assim, acho que ele merece crédito. Ao meu lado,
por exemplo, um torcedor dizia: “se jogar assim contra o São Paulo, já era”. O
raciocínio não é bem esse. O raciocínio é “eles estão jogando assim por causa
do São Paulo”. Qualquer peladeiro sabe: quando o jogo não vale nada e o outro
time é pior, você não só relaxa, como tira o pé. Especialmente depois do
acontecido com a dupla Bernard e Tardelli, que ficaram fora de um jogo da
Libertadores por conta de um joguinho xoxo contra o Tupi.
Contra o São Paulo, se o time entrar como entrou as últimas
partidas, serei o primeiro a dizer para acender o alerta. Entretanto, não é bem
assim. Não tem nada ganho ainda, tampouco tem algo perdido. Quem esteve em São
Paulo sabe o clima que foi criado pela torcida tricolor nos arredores no
Morumbi: sangue nos olhos e gritos de “eu acredito”. Esse tem que ser o
espírito do atleticano. Até porque quem acreditou em Márcio Mexerica, Tucho e
tantas outras merdas, acreditar no time de hoje é fácil. Agora, aqueles
torcedores que vão no estádio encher o saco, cornetar e com só levantam a bunda
da cadeira para gritar gol, façam-me o favor: fiquem em casa.