segunda-feira, 3 de junho de 2013

O dia em que tive medo

Tudo parecia perfeito. O resultado no México era animador. O retrospecto no Horto é animador. Festa armada, rua de fogo, máscara do pânico, mosaico e tudo mais. Era dia de comemorar, de ir ao estádio apenas para saber de quanto seria a vitória e quando seria a partida decidida. A Arena Independência nos traz essa confiança, às vezes excessiva. Esquecemos que enfrentávamos o campeão mexicano de 2012. Campeonato que é forte e que, inclusive, tirou muitos jogadores do futebol brasileiro. Esquecemos que o time está em maratona, enquanto os Xolos já haviam abandonado o Apertura local para disputar a Libertadores.  Quase pagamos pela arrogância.

Estava no estádio. Sai do sítio onde passei o feriadão e para lá voltei após a partida, cerca de 60 km de distância. Mas não dá para ficar fora de uma partida como aquelas. Logo no início o Tijuana mostrou que era melhor do que imaginávamos e que não seria tão fácil quanto supúnhamos  Eis então que um gol anulado quase me mata do coração, mas tudo normal. Placar empatado, sem gols em partida no Horto… Questão de tempo. Entretanto, na hora que o Galo tomou o primeiro gol, senti algo ruim, um clima estranho. Geralmente, quando o Galo toma o primeiro no Horto, eu fico tranquilo, sabendo que cedo ou tarde a situação vai mudar. Naquela quinta não.

Estava errado, já que no final da primeira etapa o capitão Réver guardou. Empate, meu medo era bobo. Mas estranhamente não era só meu e não passava sob hipótese alguma. O Galo parecia acomodado com o resultado e nas oportunidades que teve não matou o jogo. Ao meu lado alguém comentou: “estranho, esse resultado eliminam os caras e eles estão fazendo hora”. Minha língua maldita respondeu: “a esperança deles é marcar um gol no finalzinho e não dar tempo pra gente reagir”. O jogo continuava tenso, apreensivo. Para nós torcedores, com os corações na boca, a noção de tempo não existe. E continuava com medo, que é anormal para um jogo no Horto.

Eis que o juiz marca um pênalti. Eu, atrás do gol oposto, não tinha a menor noção de tempo. A primeira reação mental foi imaginar que era uns 30 do segundo tempo e que o Galo empataria. Vi, então, uns dois torcedores ao meu lado deixarem o estádio. Na minha frente, um torcedor, que ouvia o jogo no rádio, se virou xingando: “Puta que o pariu, um pênalti aos 47 do segundo tempo”. Nunca tive tanto medo na vida. Confesso que gelei. Pela primeira vez desde a inauguração do novo Indepa tive pânico. Vamos perder. Durante a  eternidade que foi entre a marcação e a cobrança, vários filmes passaram em minha mente. Seria o fim da mística do Horto? Pior, o sonho teria acabado? Um sonho que nunca foi tão real… Era o adeus? O silêncio no estádio era atormentador. O Victor, goleiraço, desde que veio para o Galo só pulou para o lado direito em pênaltis.

Não sabia se via a cobrança, se virava de costas, se fechava os olhos. Sabia que não conseguia me mover, não conseguia falar, só conseguia ficar com as mãos na cabeça imaginando o que estava acontecendo. O juiz autoriza e eu vi aquela bola indo para o alto depois de bater no Victor. Confesso que de longe não vi como foi, onde bateu, só sei que vi a bola batendo no Victor e subindo. Depois, quando aquele monte de jogadores correu para abraçar o herói a primeira reação foi pensar que o juiz anulara a cobrança. Mas dois intermináveis segundos se passaram e vi que era só impressão. Ao meu lado, meus primos chorando. Eu não tinha nem lágrimas para derramar. Acho que não acreditava. Acho que ainda não acredito. O Victor pegou aquela bola. Sorte de campeão. Era o que eu pensava. O sonho está mais vivo do que nunca. Agora é a hora de ajudar um pouco a sorte, que parece que está ao nosso lado. Para começo de conversa, a máscara do Pânico, pelo menos a minha, nunca mais volta ao Independência.