A região do
Barreiro, localizada no sudoeste de Belo Horizonte, é quase uma cidade dentro de BH. Muita gente fala que é Contagem, mas
ainda é BH. Longe do centro, aquela região extremamente populosa, tem vida
própria. Quem mora no Barreiro não precisa, se não quiser, ir ao centro de Belo
Horizonte para nada. É uma região tradicional, da qual, quem mora, dificilmente
muda, apesar das pessoas de fora fazerem diversas piadas por conta da
distância. Eu, particularmente, conheço muito pouco do Barreiro. A última vez que passei lá, de carona com meu primo, cortando caminho voltando de Contagem, foi no
último natal, afinal, moro, literalmente, do outro lado da cidade.
Lá no Barreiro, do outro lado da cidade, há
20 anos nasceu um jovem com muito talento para jogar bola. Ele, porém, muito
franzino e baixo sofreu para chegar às categorias de base de um grande time de
futebol. Há mais de 3 horas de ônibus dali, em Vespasiano, ao norte de BH,
fica o centro de treinamento do Galo. O jovem franzino, conseguiu, enfim uma
vaga em uma categoria de base de um grande clube. Mas o futebol atual não é mais o mesmo. Hoje,
jogador tem que passar no teste da fita métrica antes de passar no teste de
bola. Então, por conta de algumas
pessoas que acham que o físico sempre supera o talento, o jovem garoto foi
dispensado duas vezes da categoria de base do Galo.
Mas ele não
desistiu. Nem ele nem as boas cabeças do futebol, que conseguem entender que futebol
não é só físico. O menino foi chamado de volta à Cidade do Galo e, com todo sacrifício, perseverou e continuou a viver seu sonho de ser jogador
profissional. Ele conta que saía do CT em Vespasiano às 18 horas e chegava ao
Barreiro depois das 21 horas para acordar no dia seguinte às 4:30. Sacrifício, perseverança e talento são
receitas infalíveis para o sucesso. Aos poucos, o franzino foi com o tempo
se destacando na base, à despeito dos que achavam que ele era pequeno demais
para jogar futebol. O menino do Barreiro, foi subindo de categoria e, ainda no júnior, foi sacrificado por um treinador profissional que promoveu a estreia do
garoto no time profissional na lateral direita. Ali, mostrou habilidade, mas
ainda não era a dele. O treinador, segundo contam as más línguas aconselhou ao clube que o dispensasse. Mas o treinador da base, Rogério Micale, insistiu que o menino tinha muito talento.
Voltou ao júnior e os que não acreditavam achavam ter razão. O garoto, porém, se destacava
e marcou o gol do título da Copa BH de futebol júnior. No ano seguinte, Cuca,
recém chegado ao Galo, viu que jovem tinha talento suficiente para ajudar o time
a sair da zona de rebaixamento. O menino do Barreiro voltou ao profissional,
desta vez na sua posição. Desde então foi titular absoluto. O "Pequeno Polegar",
como alguns brincavam carinhosamente no final de 2011, foi ganhando confiança,
se tornando ídolo e amadurecendo seu futebol. A alcunha de "Pequeno Polegar" já não cabia a ele. Ninguém mais o chamava assim. Era Bernard, o dono da camisa 11 do Atlético. Ainda muito novo, oscilou
no primeiro semestre de 2012, faltava amadurecer. O amadurecimento veio até
rápido, auxiliado, por exemplo, por Ronaldinho Gaúcho, seu ídolo, com quem,
inclusive, aprendeu e incluiu ao seu repertório a técnica da bola parada.
A glória veio
em 2013. O Barreiro ficou pequeno. Em sua primeira atuação com a camisa do
Atlético no exterior, logo em uma Libertadores, logo na Argentina, ele fez três
gols no Arsenal de Sarandi e encantou a imprensa argentina, que o apelidou de “Chiquito fenômeno”. Nos campos da América
se sentia em casa, como se ainda estivesse no Barreiro, do qual, aliás, mesmo
com muito mais dinheiro, ele não saiu, embora agora chegasse lá de carro.
Felipão, mesmo sem nunca ter o convocado, o levou à Copa das Confederações.
Seus companheiros e treinador eram só elogios. O “Chiquito fenômeno” tem alegria nas pernas. Se tornou, praticamente,
o décimo segundo jogador da seleção e, quando entrou, teve personalidade.
Personalidade que levou o garoto a dizer que não sairia do Atlético sem um
título importante. E ele veio. Bernard foi um dos principais personagens do
histórico título da Libertadores e, mesmo sabendo que provavelmente iria à
Europa, se doou até o fim na decisão, permanecendo em campo, mesmo
com câimbras nas duas pernas.
O garoto de quem alguns duvidavam vale agora 25 milhões de euros. O bilionário dono do Shaktar
Donetsk da Ucrânia, buscou o garoto com um jato banhado a ouro, ofereceu ao
menino do Barreiro uma mansão, um carro importado e um módico salário mensal de
mais de um milhão de reais. Isso porque pagou por ele mais de 70 milhões de reais. Da Europa o jovem garoto que disse querer um contrato
vitalício com o Galo repetiu o que mostrou na camisa em sua última partida com o Galo: “uma vez até morrer”. Não havia como segurá-lo, o
menino do Barreiro agora é do mundo, mas nunca vai deixar de ser do Atlético.
A princípio
falaria da volta da CBF, que nos garfou na quarta feira. Não só pelo pênalti
mas por, literalmente, deixar o Jefferson apitar o jogo e travar o jogo do Galo
o tempo todo. Falaria do jogo como um todo, de como, mais uma vez, o Galo toma
um gol ridículo pelo lado esquerdo. O segundo gol do Botafogo, se notarem, foi
exatamente igual aos sofridos pelo Atlético Paranaense. Mas hoje ouvi uma entrevista do Bernard e não
podia me furtar a dizer duas coisas ao menino do Barreiro: muito obrigado por tudo Bernard e excelente boa sorte!