sexta-feira, 22 de março de 2019

Salvem o Mineiro

Pouco se tem para falar do jogo entre Tupynambás e Atlético de quarta-feira. Se o time principal já parece desorganizado, imagine o terceiro time. Só para não passar completamente batido, o que dá para fazer é frisar algumas individualidades, nada além disso. Falar do goleiro Cleiton, que faz um ótimo campeonato, e do, já conhecido Maidana, é chover no molhado. De diferente, gostei do Rea e acho que ele deveria, ao menos ter mais chances, na verdade, é inexplicável que não tenha tido até hoje. O uruguaio pareceu ser um zagueiro seguro. No meio, o Levir pode estar redescobrindo o Nathan, o que seria ótimo para qualificar a saída de bola. O Bruninho é muito bom jogador, mas é mais fácil o Moro soltar o Lula do que o Bruninho soltar a bola. 

Isto posto, o quero hoje é clamar pela salvação do Campeonato Mineiro. Diferentemente de muitos, acho que o campeonato é essencial, mas pede socorro. É no estadual que jovens jogadores e suplentes ganham oportunidades; é também o período de pré-temporada e ajustes no time para o restante do ano. Mas, sobretudo, o estadual é o momento de fomento de torcedores. Isso porque são nos jogos do Mineiro que, por conta dos preços e da, às vezes, gratuidade, que as crianças vão ao campo, que se formam torcedoras. Em alguns casos, pode ser a chance delas de gritar "é campeão", de entrar com os ídolos e por aí vai. É, ainda, a hora que o público do interior tem a chance de receber seu time do coração, vê-lo em sua cidade. Perder isso seria uma tragédia.
 
No entanto, estão matando o Mineiro, com equipes cada vez mais fracas promovendo um torneio cada vez menos competitivo. Os times daqui de Minas não revelam mais ninguém. Mal servem para amadurecer os moleques da base dos grandes da capital por meio de empréstimos, e cada dia mais, se tornam equipes de showbol, com médias de idade que beiram a de um asilo.

Ouvi no rádio, mais especificamente no Arena 98, esta semana dois dados preocupantes a este respeito: o Novorizontino ganha mais de cota de TV no Paulista do que o América no Mineiro. Além disso, os clubes da série A2 de São Paulo, transmitida nacionalmente pelo SporTV, pagam melhores salários do que os clubes da primeira divisão do mineiro (óbvio que estou excluindo Atlético, Cruzeiro e América).

O resultado não é apenas um Campeonato Paulista mais forte e competitivo, com jogos melhores, mais audiência, melhores cotas de TV. É também na formação e revelação de melhores jogadores que são vendidos aos grandes do Brasil e que, por conta dessa receita, aumentam, ainda mais, as possibilidades dos times pequenos de São Paulo. Só para se ter ideia, foi do Paulistão que surgiram Tchê-Tchê, Everaldo, Réver, Victor, Scarpa... Dentre tantos outros exemplos recentes de jogadores que se destacaram e foram para grandes clubes brasileiros. Quem saiu de Minas? 

Hoje apenas dois times que disputam o mineiro são minimamente razoáveis: o Tombense e o Boa, ambos geridos por empresários e, mesmo assim, sem muitos destaques individuais, se bem que a Tombense tem o Juan, que nem precisamos falar sobre o quão experiente é.  Obviamente que a quantidade de dinheiro que circula no interior de São Paulo é muito maior do que em Minas e que isso influencia nessa disparidade, mas há solução. Tem que ter. Até porque, não estamos pedindo que o Campeonato Mineiro seja nivelado com o Paulista, mas sim que ele tenha o mínimo de competitividade e qualidade. 

O Praia Clube de Uberlândia, atual campeão da Superliga feminina de vôlei, e segunda melhor campanha na temporada em andamento (atrás do Minas) mantem um timaço, com jogadoras consagradas de seleção brasileira e americana. Será que o salário delas é menor do que a de um jogador razoável de um time do interior de São Paulo? Ou que o custo delas é menor do que a de revelar bons jogadores na base? Creio que não. Falta é vontade, apoio e planejamento. O Praia Clube tem diversos parceiros comerciais e por isso é competitivo, pôs a cidade no mapa do vôlei, coloca grandes públicos em seu ginásio, possivelmente aumentou seu quadro de associados e, certamente, gera renda para a cidade e parceiros. Ora, o projeto está aí há anos, quem, em sã consciência, manteria um projeto deficitário por tanto tempo?

Cidades como Uberlândia, Montes Claros, Juiz de Fora, Ipatinga, Varginha, Nova Lima podem e devem ter projetos bem estruturados em parceria com empresas locais, clubes e, dependendo, até incentivo público,  no intuito de fomentar a formação de atletas e consequentemente equipes mais fortes em médio e longo prazo. Em paralelo, é preciso que uma melhor distribuição de cotas de TV para que os clubes possam se estruturar, além, claro, de um calendário estruturado que dure o ano inteiro. O resultado seria um produto melhor, mais caro, mais cotas de TV, mais competitividade, mais audiência e a restauração do Campeonato Mineiro. 

Tenho certeza de que alguém bem pago para pensar nessas soluções desenvolveria um projeto que fosse bom para todos os lados. Essa pessoa não sou eu, até porque preciso trabalhar e não teria tempo para isso (se alguém quiser me bancar, faço com todo prazer). Brincadeiras a parte, o embrião está lançado e muita gente tem falado disso, só é preciso alguém pegar para fazer. Por fim, deixo aqui a minha súplica, súplica de um torcedor fanático, que, até hoje se lembra de sua primeira vez no Mineirão, em um Campeonato Mineiro, no jogo entre Atlético x Patrocinense em, se não me engano, 1992: por favor, salvem o Mineiro.