sexta-feira, 27 de setembro de 2019

E se "El Tanque" não escorregasse?

O jogo contra o Tijuana estava 1 x 1. O Galo classificava no gol fora de casa. O juiz apitou pênalti do Léo Silva. Dentro do estádio, eu, sem noção nenhuma de tempo, imaginei: "o Galo vai empatar depois". Até que, do meu lado, um sujeito se levanra para ir embora xingando: "filha da puta, marcar um pênalti desses aos 48".  Gelei.

Daquele momento à cobrança foi uma eternidade. Talvez meu coração tenha parado e eu tenha ficado sem oxigenação no cérebro. Só lembro, então, que a bola depois de bater no pé do Victor subiu. Ao ver todos os jogadores correndo em sua direção, pensei que o corno do juiz tivesse mandado voltar a cobrança. Não tinha. Ali tive a certeza do título.

Meses depois, ainda 24 de julho, já que o título só viria na madrugada do dia 25, o Galo vencia o Olimpia no Mineirão por 1x0. O placar ainda não era suficiente e o primeiro gol saiu já no segundo tempo. A bola teimava em não entrar e o relógio teimava em correr.

Contra-ataque dos caras, Victor sai como louco em El Tanque Ferreyra, Réver acompanha a jogada. O centroavante paraguaio passa fácil por um Victor completamente desesperado. O gol livre para o cara simplesmente rolar de esquerda para o gol. De tão livre que estava decidiu ajeitar para o pé bom. Nesse movimento ele escorregou. E Réver, que o acompanhava, saiu com a bola. No finzinho o segundo gol veio. E o título saiu nas penalidades. Até hoje não tive coragem de rever este lance no replay. Vai que a bola entra?

Futebol é feito de detalhes. Por vezes, de sorte. Que tal fazer um exercício de empatia? Vocês conseguem imaginar o pós-jogo na imprensa de Tijuana naquela noite? E a mídia paraguaia, que já contava com o tetra, no dia 25 de março?

Melhor. O que seria dito por aqui se o Victor não pega o pênalti? Léo Silva seria execrado. Não seria o libertador alvinegro. Victor não seria Santo. 

E se o Ferreyra não tivesse escorregado? A culpa poderia recair sobre o Rosinei. Ou até do Victor por ter saído mal. O Cuca não teria o cartaz que tem hoje, nem o complexo de sebastianismo que temos com ele. Talvez o Tardelli fosse execrado por ter perdido alguns gols feitos... Tudo por um detalhe...

Ontem, o Ferreyra não escorregou. A eliminação para o Colón foi no detalhe. O Galo não esteve mal no jogo. No primeiro tempo, aliás, foi muito bem. No segundo, o Atlético fez o movimento natural de recuar, um pouco exageradamente, mas natural. As substituições, de fato, deram muito errado. Aliás estava escancaradas que dariam: não tinha  porque colocar o Vina. Além de ele não ter jogado nada, MATOU o Cazares, que vinha bem, e os contra-ataques. 

O jogo se desenhava para o Geuvânio, um cara para puxar contra-ataque. Ou mesmo o Nathan, para dar qualidade de passe e segurar a bola. Mas não o Vina. Falar da entrada do Zé Welison é ser engenheiro de obra pronta. Não dava mais para o Jair e o placar estava favorável. Depois do ocorrido, talvez pensemos em improvisar o Nathan ou o Luan ali. Mas, naquela hora, todos faríamos o mesmo.

O Ferreyra, então, escorregou contra a gente. Faltando 8 minutos para a classificação, pênalti para os caras. Sinceramente, do estádio não me pareceu. Mas como não vi na TV e os analistas são unânimes em dizer que foi um pênalti bobo, vou dar crédito a eles. Não teve São Victor e a partida, que estava na mão, foi para as penalidades.

Antes de continuar, já antecipo que o mais irritante para mim é perder nos pênaltis tendo feito a primeira defesa. Além disso, apesar de o Cazares ter batido mal, pouca gente falou disso ao fim do jogo, mas a cobrança determinante para a derrota foi a do Réver.

Aliás, não lembro de outro pênalti batido pelo Réver. Naquela Libertadores, ele não cobrou nenhum. Porque o Réver? Se ele faz aquele, a tranquilidade para a sequência seria maior. Também não entendi as razões que motivaram a escolha do Cazares para encerrar as batidas. Já vi ele marcar de pênalti, mas o cara está na mira da torcida. A pressão nele seria maior do que em qualquer outro! Os melhores batedores abrem e fecham a série. 

A revolta não pode ser por ontem. Certamente é pelo jejum no Brasileirão que, com nosso apoio, e com apenas um volante, tem que acabar domingo. Agora, de fato, este ano perdemos os dois títulos mais ganhos da história: o Mineiro e a Sul-americana. Que sirva de lição.