sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Ser ou não ser?

Estava com tweet engatilhado: poderiam somar o time do primeiro tempo contra o Palmeiras e o time do início do segundo tempo contra o Flamengo. 


Era cedo. Pouco antes de apertar o enviar, o Patric entregou a Paçoca. Nesse momento, a confiança se esvaiu e o esboço de reação acabou. O time se acovardou - mais uma vez - e a derrota simplesmente se consolidou.


Neste momento, é difícil ser racional. E nós torcedores não temos a menor obrigação de sê-lo. A diretoria tem. E eu, com muito esforço, tentarei ser. 


Por várias vezes elogiei e critiquei o Santana. Uma das críticas mais recorrentes a ele, cuja primeira foi exatamente contra o Grêmio no primeiro turno, é o complexo de URT. O defensivismo exagerado, a satisfação com empate ou até com o perder de pouco. Uma postura covarde.


Contra o Flamengo, a mesma covardia. Algo que anunciado. Quem quer jogar defensivamente, precisa atacar. Ninguém suporta uma pressão como a imposta pelos Mulambos, ainda mais com a qualidade que eles têm. Como ele iria ameaçar tendo Vinícius, Cazares e Ricardo Oliveira na frente? Quem seria o desafogo de velocidade? Para quem o Cazares lançaria? Para quem o Vinícius tentaria (já que ele erra todas mesmo) passar? 


A escalação estava, obviamente, errada. O Patric era desafogo, o Patric! Pela primeira vez o Rodrigo leu bem o jogo e fez uma boa alteração. Colocou a velocidade, o desafogo que faltava. Corrigiu o erro que cometeu na escalação colocando o Marquinhos e pôs o Cazares de falso 9. O time melhorou. Atacou mais e fez um golaço com o Nathan, o melhor jogador do Galo ao lado do Igor Rabello. Mas não tivemos tempo, sequer - ainda bem - de tweetar um elogio. O Patric entregou a paçoca com muito gosto e o Galo, com sua crise de confiança, se perdeu completamente.


Em vez de tentar manter os 10 bom minutos iniciais da segunda etapa, ou tentar, de alguma forma, ser mais contundente no ataque, o Gao recuou, voltou a jogar covardemente. O Rodrigo Santana confundiu o Chelsea com a URT (ambos azuis) e reverteu as mudanças que deram certo, voltando ao esquema fracassado da primeira etapa. Algo simplesmente inexplicável.


Como disse, com muita dificuldade, vou tentar ser racional. Antes de falar de esquema, não há treinador que resista atuações individuais desastrosas. Não esquema brilhante capaz de suportar atuações trágicas, como as do Amigo do Bob Esponja e do Maidana. Sem contar nas abstenções de Elias e Vinícius.


Acontece que o esquema do Rodrigo estava longe de ser brilhante. Era o complexo de URT atacando. Simplesmente ridículo, quase tão ridículo quanto à entrevista dele no pós-jogo citando Chelsea. Aliás, a única coisa que consegue ser mais risível do que essa entrevista é o desempenho patético do Atlético nas últimas rodadas, em que se pese as derrotas injustas para Corinthians e Botafogo, mas, pelo visto, essas foram pontos fora da curva. 


E não me venham com falta de raça. Não é falta de raça. É falta de bola, de convicção e de jogo. Erros que partem do treinador para o campo. O time do Larghi ano passado jogava mais, era melhor. Por muito menos, foi demitido. Um erro. Como será uma demissão do Santana agora. O motivo é simples: qual o substituto? Não me falem no treinador maionese, porque ele nada mais é do que o ex-assistente do Micale, o Santana com grife. 


O Cuca, é o mito Sebastianista. Além de ser caro e improvável, os últimos trabalhos do Cuca nem de longe lembram aquele do galo no início da década. A razão também não é complicada, Cuca é um cara difícil precisa de um escudo na diretoria e não o contrário. Àquela época, ele tinha esse escudo: Alexandre Kalil. Basta assistir as entrevistas de ambos em suas participações no "Bola da Vez" da ESPN que você concluíra o modus operandi do sucesso: todas as decisões difíceis e impopulares (entre os jogadores) tomadas pelo Cuca eram comunicadas antes ao Kalil, para que ele respaldasse. Então ele chegava ao elenco dizendo que a decisão era do Kalil, que ele (Cuca) até tentou interceder, mas que o homem era teimoso. 


Dirigentes como o Kalil são raros. E as passagens de Cuca no Palmeiras e no São Paulo mostram isso.


A diretoria precisa, sobretudo, de serenidade. O presidente para ficar quieto. Ele contratou o Rui Costa, um dos mais competentes do Brasil e deve dar autonomia para o cara. Para nós, torcedores irracionais, a função dele é só contratar. Não é assim. O trabalho de um diretor de futebol é feito em longo prazo, nos bastidores, de baixo para cima; implantar uma filosofia, escolher um bom diretor de base e cobrar. Cobrar muito. É hora de chegar para o treinador e questionar: amigo, você fez os melhores jogos do ano quando quis jogar. Por que agora desistiu? Essa é sua convicção de jogo ou você está querendo tirar o seu da reta? Amigo, nossa filosofia é X. Você está dentro dela ou não?


De nossa parte, não sejamos burros. Não vamos fazer do Grêmio o que fizemos com o Ceará. Temos que ganhar o jogo para o Galo, um a um, até ficarmos tranquilos na tabela.