Esperei a sexta para conseguir processar tudo, de cabeça fria. O Atlético não tem paz. Está mais óbvio, desde a vinda do Dom Sampa, que a imprensa, sobretudo do Rio e São Paulo, está querendo nos ver mal. A daqui, já conhecemos. Crises vendem, e tudo, desde um pedal quebrado da bicicleta do Sampaoli à uma atuação não tão boa, mas com três pontos, viram tempestade em copo d’água.
Isso vir de fora, a gente entende. Mas vindo de dentro, aí é foda. Cara, até segunda-feira a torcida estava em paz. Tudo correndo nos conformes, uma rodada espetacular no Brasileirão. Ninguém reclamando de um mal jogo – e isso vai ocorrer -, todos valorizando os três pontos no Brasileirão.
Eis, então, que surge algo que qualquer um que estava em coma no início da semana, ao acordar, vai jurar que é Fake News: Thiago Neves. Velho, a prova maior que a imprensa está jogando contra, é o tanto que eles estão querendo jogar o Sampaoli contra a torcida neste caso, mas esse é assunto para outra hora.
Fato é que, se o Dom Sampa entende que o cara é bom e que ele é capaz de recuperá-lo (de fato não acredito nisso, acho muito mais fácil recuperar o Cazares, que é mais jogador e menos problemático), normal ele pedir. Era uma oportunidade de mercado. Até porque, por mais que ele esteja há uma temporada no Brasil, duvido muito que ele soubesse do histórico desrespeitoso dele com a instituição. Primeiro, porque Sampaoli não é desses caras ficam ligados em redes sociais e programas de mesa redonda; segundo, porque, convenhamos, isso repercutiu em Minas. Vocês acham mesmo que (exceto a escrotice da barragem) a mídia do eixo liga para essas coisas fora do mundinho deles?
Quem precisa ser preso é o cidadão que, dentro do Galo, aceitou levar esse disparate adiante. Puta que o pariu, não tem atleticano nessa gestão? Bom, tem. Um que merece ganhar um Galo de Prata, inclusive. O cara que vazou a informação à imprensa, fez o torcedor se revoltar, nos mostrou a força que temos e que, por isso, melou o negócio. Deus do céu. Só faltou trazer junto o Wellington Paulista e o Adilson Batista. Insisto, para recuperar jogador problemático, olha o Cazares aí, muito melhor que o Thiago Neves.
A diretoria do Atlético precisa entender uma coisa para ontem: não amamos os títulos, amamos o Galo. E quem desrespeita a Instituição não pode vestir essa camisa. Sério, falta uma conexão da diretoria com a arquibancada. E isso é tão simples. Cara, escolhe um torcedor, um só, e coloca na gestão. O papel dele é simplesmente sentir a arquibancada, viver o Atlético e passar o Feed Back ao presidente. O cara não pode ser tão alienado. Isso é pior que uma empresa que não entende o cliente. É uma empresa que não entende os seus acionistas majoritários. Imagina em uma reunião de acionistas da Coca-Cola o diretor de marketing chega com uma lata de Pepsi na mão?
Então, depois de culpar o Sampaoli, porque a imprensa não o suporta, fizeram um escarcéu porque ele cobrou salários em dia. Levir fazia isso, ninguém falava nada. Mas o Sampaoli... E, aqui, mais um recado para o presidente: salário em dia é obrigação. E não adianta falar em pandemia. O Atlético contratou a rodo durante a paralização do futebol, será que no planejamento financeiro, ninguém aventou a hipótese de perda de receita? Me ajuda aí, né. Se fossem todas as contratações feitas no início do ano, antes do maldito Corona, eu entenderia. Mas não foram. O Galo foi às compras com o futebol parado, portanto, não há desculpa.
Um dia depois, porque atleticano não pode ter paz, o Villa. A minha opinião é clara: não dá para contratá-lo enquanto ele não for inocentado. Se for, ótimo, venha. Se não, não dá. A imagem do clube sairia muito arranhada, perderia patrocinadores, traria antipatia dos outros torcedores – o que é péssimo, e por aí vai.
Antes que você me fale: e daí para os outros torcedores, já te explico: audiência. Em 2013 e 2014 o time do Atlético, com R10 e cia, além do bom futebol, eram um time que gerou simpatia entre os outros clubes. Resultado, todos queria ver jogos do Galo. Alguns até compravam produtos, mas o Galo apareceu em rede nacional, isso valoriza a marca, isso significa dinheiro. Só para se ter uma ideia, a final da Libertadores de 2013 foi líder de audiência em todo país, foi transmitida em sinal aberto da Rede Globo. Em 2009, a final da Libertadores entre Cruzeiro e Estudiantes foi transmitida só para Minas. Em outras cidades, passaram o jogo da Copa do Brasil do Fluminense, se não me falha a memória. Sabem o por quê? porque ninguém tinha a menor simpatia pelo Cruzeiro. Aquele jogo só interessava ao atleticano, torcendo contra, e aos cruzeirenses.
Esse parêntese é para dizer: imagem conta muito. Imagem é dinheiro. E não estou condenando o cara, mas, em caso de condenação, o Atlético não poderia fazer nada. A merda estava feita. Então, em casos como esse, em que há o julgamento por questões absolutamente traumáticas e sensíveis à sociedade, se não houver decisão final, por mais que você acredite na inocência do cara (não disse que acredito, nem que desacredito) para valer o risco o cara tem que ser uma unanimidade, um cara muito diferenciado. Não é o caso do Villa. Ele não vale o risco.
A diretoria acertou em desistir da contratação. Mas, outra vez, foi, no mínimo, inocente. Se queria um termômetro para saber se a torcida cria ou não em sua inocência, se aprovava ou não sua contratação, um dia depois do trágico episódio do Thiago Neves é muito amadorismo:
1 – A torcida estava – e ainda está – absolutamente empoderada. Ela descobriu seu poder e está com ele no auge, portanto, o risco era alto
2 – O episódio anterior já havia gerado um desgaste absolutamente desnecessário à imagem do clube, dos mandatários e até na relação com a comissão técnica.
A impressão que eu tenho é que a diretoria do Galo precisa de um amigo, um cara para falar assim: “velho, vai dar ruim”. “Vamos pensar melhor”. “Vamos esperar um pouco”. “Adia, deixa a poeira baixar”... A pressa é inimiga da perfeição, e, pelo visto, do bom senso. Ou então, com o corte de cargos, demitiram o bom senso...
Isto, posto, o importante agora é jogar bola. Os jogadores e a comissão precisam entender que estamos com eles. E que se reduzam as semanas cheias, porque, se por um lado é tempo para treinar, é tempo demais para a diretoria do Atlético complicar o que está dando certo.