segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Eu acredito




O ano de 2020 tem sido uma loucura. Para mim, em especial, um ano muito corrido. O dobro do trabalho pela metade do dinheiro, por conta disso tenho escrito menos. Quase sempre, após as derrotas, em contraposição aos cavaleiros do apocalipse.

Já cansei de falar aqui, não busco cliques, não vivo disso e o caos vende. Sou do tipo que prefere criticar nas vitórias e defender nas derrotas. Algo, para mim, mais honesto, e mais difícil – sem contar, claro, muito mais impopular. Estou seguindo mais linha da defesa nas derrotas por dois motivos: estão acontecendo menos, assim ganho tempo. O segundo, é porque nessas horas é que o time precisa de apoio. 

A torcida do Galo é por natureza bipolar e esses mesmos cavaleiros do apocalipse, que querem acabar com tudo, demitir todo mundo, falar que tudo está uma merda nas derrotas, são os mesmos que não conseguem, nas vitórias ver os erros e os pontos fracos. Em geral, oportunistas e populistas. 

Se eu falar para vocês que não estou puto com o resultado de ontem (pela forma que foi), estaria mentindo. Fui dormi puto, acordei puto, estou puto até agora. Isso, no entanto, não me impede de separar as coisas e tentar ser minimamente racional. 

Serei, antes, pontual sobre algumas coisas de ontem. Me impressiona a crueldade, até mesmo maldade de alguns torcedores. Cheguei a ler o seguinte tweet “Com o Gabriel e o Igor Rabello, vocês esperavam, o quê?”. Desafio alguém me mostrar algum lance de ontem em que o Gabriel comprometeu. O nome disso é perseguição. Ninguém está imune às críticas, mas sejam justos. 

Até mesmo com o Sampaoli. Eu mesmo já o critiquei, e não estou fazendo juízo do jogo de ontem quando eu digo: não dá para colocar na conta do treinador erros individuais grotescos, como os gols sofridos pelo Galo. Tampouco os menos grotescos, como os gols claros que perdemos (Sasha e Vargas, por exemplo). 

Só para constar dos erros individuais, no primeiro gol, dois erros claros: Igor Rabello, mal posicionado e desatento. Sem contar que, apesar disso, a meu ver, era uma bola defensável. Não foi um frango, mas era defensável. No segundo, Allan e Réver erraram. Sim, o Réver também errou. Ele optou por não dar o chutão e tentou arredondar uma bola complicada. 

Jogo de ontem passado, vamos falar de campeonato. De não entregar os pontos. Primeiro, e acho que temos que compreender isso, o Galo não é uma máquina. Ele vai brigar pelo título até o fim, mas seu objetivo TEM que ser a Libertadores. Não há time com obrigação de ser campeão. Além disso, calma. Estamos no início do segundo turno, o São Paulo foi o único dos times da ponta que não passou por surto de Covid, que ainda não teve uma fase mais instável e ainda deu, por assim dizer, uma sorte tremenda: seus jogos adiados estão sendo realizados em sua melhor fase do campeonato. O do Galo, por exemplo, foi feito em meio a um surto de Covid. 

Falando de dentro do campo, eu me pergunto, vocês têm acompanhado os jogos do São Paulo? O próprio jogo contra o Sport ontem, antes do nosso. Vocês viram? Então pergunto a vocês três coisas: 

1 – Foi um bom jogo? 

2 – O time do São Paulo joga melhor que o Galo, Flamengo, Santos e Grêmio? 

3 – Qual diferença do São Paulo para os demais, melhor, que se dane os demais. Qual a diferença do São Paulo para o Galo? 

A primeira, deixo para cada um responder. Vamos para as próximas. O time do São Paulo não joga melhor do que nenhum dos times citados. Aliás, de todos esses, gosto mais do jeito de jogar do Santos, mas não vem ao caso. Nos melhores momentos desses quatro times que citei (não tenho acompanhado o Palmeiras), todos eles foram melhores que o São Paulo. Evidentemente, o São Paulo é mais regular, por isso lidera. Mas não joga mais do que eles. 

A grande questão é: o que torna o São Paulo mais regular? Se você vê só os resultados, vai falar o óbvio (que é parte da resposta), é um trabalho mais longo, tem jogadores decisivos, perde pouco... Mas se você olhar o desempenho, assistindo aos jogos, como o de ontem contra o Sport, por exemplo, vai ver que tem muita outras coisas, até o imponderável. 

Abrindo um parêntese, contar com o imponderável não é demérito, mas tem dia que o a manteiga cai para cima e dia que ela cai para baixo. Tem dia que o jogador do Inter que fez o segundo gol chutaria na lua. Então, para quem não acompanha, falarei de alguns jogos do São Paulo que foram, por assim dizer, interessantes: 

  • No Morumbi, São Paulo e Bragantino empataram sem gols. O que já é, na prática, um resultado terrível para o líder. Mas poderia ser pior: naquele jogo o Bragantino perdeu dois pênaltis, o segundo já no fim do jogo. 
  • No mesmo Morumbi, o São Paulo empatou com o Bahia. Estava perdendo até os 40 do segundo tempo, quando também achou um gol 
  • Flamengo e São Paulo, o Flamengo também perdeu dois pênaltis, um quando vencia por 1 x 0 e que poderia mudar o rumo da partida. 
  • No Beira-Rio, contra o Inter, com um a mais, o São Paulo perdia o jogo e achou, em uma bola na área, já nos acréscimos, o gol de empate. 
  • Na Fonte Nova, contra o Bahia, quando o jogo estava zero a zero, o goleiro do São Paulo fez um pênalti. Deveria ser marcado e ele deveria ter sido expulso. Não ocorreu. 

É mérito dos caras, claro. Mas também é sorte. No entanto, e isso vale especificamente para o Atlético, existe uma grande diferença: o nível de concentração dos jogadores do São Paulo do início ao fim do jogo. E acho que a vitória de ontem foi por conta disso: falta de concentração. E no caso do Galo, não sei se vocês notaram, acontece em dois momentos do jogo: no início e no fim. Já repararam como o Galo toma gols no início do jogo e, por conta disso, é obrigado a virar? 

Esse é um problema que precisa ser sanado. O time tem que entrar ligado e sair ligado, como fez nas duas partidas contra o Flamengo. Mas, repito, o segundo turno está só começando. Não há nada perdido ainda, nem dá para falar que o São Paulo é um time magnífico. E nós já viramos situações muito mais complexas. Vamos Galo, estamos juntos até o fim.