sexta-feira, 23 de abril de 2021

Rali de Ferrari

                                    

A pergunta de fato é importante: qual a hora de mudar de treinador? José Trajano a repetia com certa frequência nos bons tempos do Linha de Passe da Espn Brasil. Após a trágica exibição do Galo contra um paupérrimo La Guaira, foi a vez de Heverton Guimarães fazê-la.

Há muita coisa para se pesar: o tempo é necessário, mas outros, como foi o Sampaoli, conseguiu de cara... Qual será a regra? A regra é que não há regra, há bom senso. E neste momento, por conta de vaidade, está faltando isso tanto ao Cuca quanto a diretoria.

A diretoria não quer admitir que contratou errado – e, de fato, o fez. Cuca não admite se submeter a um estilo de jogo que não o seu. Se o treinador der o braço a torcer e recuperar o jogo posicional, teremos alguma evolução, caso isso não ocorra, a diretoria vai escolher mandá-lo embora para ontem ou morrer abraçada com ele.

O problema não é jogador, tampouco raça. Isso é coisa de torcedor, quando não sabe identificar exatamente o que está acontecendo, ou está cego de paixão. Vamos a lógica: você faria um rali de Ferrari? Usaria uma Land Rover em uma corrida de F1? Óbvio que, tendo o mínimo de bom senso, a resposta é não.

O Galo fez isso!

Vamos pensar, então, com a cabeça. O trabalho do Sampaoli foi avaliado pela imensa maioria de pessoas com o mínimo de Q.I e caráter como muito bom. Apesar de ter sido o terceiro, o título nunca esteve tão próximo. A diretoria, então, sabiamente, tinha a sua permanência como Plano A. Até então, perfeito.

Ele não ficou. Aconteceu, bola para frente. Usemos, novamente a cabeça: tínhamos como plano A a continuidade do Sampaoli, logo, para manter o planejamento minimamente coerente, precisamos contratar um treinador que, das duas, uma:

1 – Tenha o mesmo estilo de jogo – o posicional, de toque de bola curto, muita posse e marcação pressão; inspirados em Bielsa e Guardiola.

2 – Alguém humilde o suficiente para não querer re



começar o trabalho do zero e sim dar continuidade com implementação paulatina de novos conceitos – como fez o Lisca no América do Conceição, ou como faz o Crespo no São Paulo do Diniz.

O Atlético o que fez? O pior possível: contratou um treinador que não lembra, nem de perto, o conceito de jogo posicional e tampouco é humilde o suficiente para não querer ser autoral. E não adianta culpar os atletas (e olha que estão se esforçando para perder o grupo), porque eles fizeram exatamente o que comandante pediu: puseram a bola na área...

E não é apenas a escolha do treinador: o elenco foi montado pelo e para o Sampaoli. É um time posicional, afeito às bolas curtas e tabelas rápidas, jogadores franzinos, ágeis e inteligentes. Cuca gosta de ligação direta e chutões. Hulk à parte, quem mais disputa bola no alto do meio para frente? Sério, para isso não precisava de gastar R$ 200 milhões. Gastava R$ 200.000 e trazia o Rubens da Tombense e fica 90 minutos cruzando.

Alguém, antes que seja tarde, precisa colocara a vaidade de lado. Ou a diretoria admite o erro e vai ao mercado (opções não faltam: Jose Pekerman Leandro Zago (que deveria ser assistente para fazer a transição), Gabriel Heinze, Villas Bôas... Ou, ao menos, exijam do Cuca que ele repense sua tara por autoria. O que não é viável é ver um time derreter, piorar jogo após a jogo. E, digo mais, a classificação para as oitavas deste elenco milionário, por conta disso, já está em risco...