quinta-feira, 29 de abril de 2021

Fio de esperança



Este era o apelido, enquanto ainda era jogador, de um dos maiores, senão o maior, treinador da história do Atlético: Telê Santana. Confesso que desde o jogo contra o Athletic, retomei um fiozinho de esperança de que o Cuca, possivelmente em função da pressão, pode calçar as sandálias da humildade e aproveitar algum legado do Sampaoli.

O jogo na Venezuela foi tenebroso, e, apesar do empate entre La Guaira e Cerro, imagino que, decerto, foi uma partida muito abaixo dos paraguaios, porque o time venezuelano é fraco. Contra o time de São João Del Rey, é verdade, o Atlético não esteve bem. Mas houve uma mudança clara e evidente de mindset: da bola isolada para a bola no chão.

Era normal que o impacto fosse ser grande, que o time não voltasse voando. Mas, enquanto na Venezuela Cuquinha gritava à beira do campo “põe na área”, no sábado Cuca gritava “Franco, faz um-dois”. Ótimo, por mais que nas entrevistas a soberba se mantenha, dizendo que o jogar contra o La Guaira daquela maneira foi necessário, na prática, que é o que importa, mudou. A convicção do chuveirinho não existia mais.

Contra o América de Cali, em que se pondere tudo o que é necessário se ponderar em relação ao adversário, o Galo fez a melhor partida sob o comando do Cuca. Ainda distante do time de Sampaoli, é verdade, mas, até sofrer o gol, jogou bem. Diga-se, distante é uma palavra que vem bem a calhar. O Atlético voltou a tocar a bola, a ser intenso e até marcar pressão. Mas, se tem uma coisa que o jogo posicional do Sampaoli fazia e que o Cuca ainda não conseguiu chegar perto foi a tal compactação. Espero que venha com o tempo, mas o time do Galo ainda parece jogar muito distante. Aquela aproximação de outrora entre Keno e Arana, ou dos meias com os volantes ainda parece inexistir.

Alguns podem até achar que a mudança de escalação é o que foi crucial para a evolução do time. E, em certa medida, discordo. Com todo o respeito, o único fundamento em que o Mariano é melhor que o Guga é no jeito de pegar na bola. E se, no primeiro tempo, o Savarino estava meio sumido, era justamente porque ninguém, nem o Mariano, chegava perto dele... a bola menos. Igor Rabello teve uma atuação excelente, a melhor dele com a camisa do Galo, embora o Réver tenha mais qualidade de passe, tem menos vigor.

No meio, minha opção seria por Franco no lugar do Tchê Tchê, que vinha até bem, mas quase pôs três pontos a perder por um erro infantil. Zaracho e Nacho, nem se fala. Como jogaram. E o Nathan, ao entrar em campo, foi essencial: deu o passe para o Hulk sofrer o pênalti e fez a falta (em que foi expulso) em um lance crucial (erro do Tchê Tchê).

O Hulk tem se mostrado bom dentro da área, embora ache que o Vargas seja incompreendido. Acho que ele tem uma movimentação muito inteligente no ataque, mas, neste momento, o trio titular é Savarino, Hulk e Keno.

Há um motivo para falar dessas atuações individuais: o fio de esperança, passa pela humildade, e, depois de um bom jogo, na metade para o fim do segundo tempo, o preciosismo autoral pareceu tomar conta das substituições do Atlético. Se tinha o Franco e o Allan no banco, porque colocar o Dodô e subir o Arana para o meio? Por que todos, menos o Tchê Tchê, podem sair? Por que ele ficou os 90 minutos? Por que demorar tanto para colocar o Franco no jogo?

Bom, o lado bom é o que time voltou a jogar e parou com o levantamento absurdo de bolas na área. Em tempo: é hora de aproveitar com moderação, porque no momento, a esperança ainda é só um fio. O que queremos é que esse fio de esperança se concretize e que o Atlético usufrua do grande potencial que tem, que faça o saudoso Telê ter orgulho.