Depois dos jogos, sejam os resultados negativos ou positivos, o trabalho do comentarista e a corneta da
torcida são, geralmente, engenharia de obra pronta. Aquela velha e verdadeira
história de que “agora que deu errado ou certo é fácil criticar ou elogiar”. Isso é uma
coisa. Outra é quando todos, ou a grande maioria, da imprensa e torcida veem a
burrice ao vivo, corneta antes e com a razão que se comprova ao fim do jogo, ou
de um determinado período, criticam e elogiam. Nesses casos o “eu avisei” é pertinente e, embora
esteja longe de crer em uma crise no Galo, ou em um papel medíocre no
Brasileirão, as primeiras rodadas do Atlético no Brasileirão faz com que
torcedor e imprensa, em sua maioria, possam dizer um belo “eu avisei”.
A primeira
burrice anunciada foi a polêmica poupar ou não os jogadores. Principalmente contra o Coritiba, após uma viagem absurdamente desgastante e longa do México, e
um jogo igualmente desgastante. Muitos, inclusive, defendiam, com razão, que o
Galo deveria pedir à dona CBF o adiamento daquela partida. Mas
sabemos que a CBF não facilita em nada a nossa vida. De qualquer modo, era
óbvio, e quase todo mundo, daqui e de fora de Minas, dizia: o correto, até
óbvio, no início do Brasileiro era poupar o time inteiro nos jogos fora e usar
um time mais forte em casa, em que o desgaste é menor, para os jogadores não perderem
muito ritmo e até para não perder a mística no Horto. Todos nós imaginávamos
que isso aconteceria. Serviria, além de poupar os titulares, extremamente
desgastados, física, mental e psicologicamente, para motivar os reservas e
colocar alguns jovens valores para jogar. Imagino, inclusive, que o argumento
de que iriam jogar em competições relevantes em fases menos agudas que outras,
já que tínhamos quatro competições a serem disputadas no início do ano deve ter
sido um diferencial para convencer alguns jogadores a vir fazer parte do
elenco do Atlético. Convenhamos que em campeonato que tem Anselmo Ramón,
Ernane, André, Rafael Marques e Souza, Alecssandro é rei.
A desculpa para
não poupar os jogadores, comprada pelos idiotas que dizem que só pedreiro
cansa, era que o time precisa acumular pontos no início do campeonato. Não
poupou e nem pontuou. Todos sabiam que as chances de pontuar fora,
principalmente contra o Coxa eram pequenas, mesmo com os titulares, que certamente estão,
e quem não estaria, focados na Libertadores. Essa era a chance que o Cuca tinha para ver
os reservas e para estes tentarem provar que têm alguma chance de, no mínimo, fazer sombra aos titulares. Eles sim teriam motivos para dar o sangue nesses jogos. Mas, aos poucos,
o que vimos foi o elenco ser reduzido, os reservas murchando e os titulares se
exaurindo. Os pontos, que, sim, podem fazer falta na busca por um título no fim
do ano, foram perdidos e bastava aprender com o exemplo
corinthiano que, ano passado, sem poupar, ficou o início do campeonato na
lanterna. Isso não é engenharia de obra pronta, é aprender com o erro alheio.
As mudanças no
elenco do Atlético também, exceto pelas saídas do Serginho e do Araújo, foram
extremamente infelizes. Sabíamos disso antes delas se concretizarem. No início do ano
o Morais, bom meia, foi contratado. Teve pouquíssimas chances, muito menos do
que merecia, e nestas esteve bem. Os jornalistas que acompanham o Galo, eram
unanimes em dizer que ele ia muito bem nos treinos e jogos-treino. Praticamente
todos concordavam que seria um jogador útil e que poderia ter tido mais
chances. Neto Berola, com todos os defeitos que sabemos que ele tem, já foi
muito útil ao Atlético, inclusive em momentos decisivos. Além de sua velocidade
fora do comum, é um jogador, que, diferentemente de outros, muito melhores tecnicamente, não tem medo e nem sente pressão. O caso do Berola talvez seja mais polêmico.
Muitos, como eu, sempre creram que ele tem sua utilidade. Outros não o
suportam, enfim. O terceiro jogador desta comparação é o Leleu. Todo mundo que o
acompanha já notou que ele tem uma máscara do tamanho do Mineirão. Todos vimos
que em nas oportunidades que ele teve – lembremos que ele subiu em 2010
junto com o Bernard – ele não foi bem, aliás foi péssimo. Dos três, só vamos contar para o resto
da temporada com o Leleu, indiscutivelmente o pior deles. Antes tivéssemos ficado com o Nikão. No próprio sub
20 do ano passado vimos Dodô, Carlos e – em outra posição – o Lucas Cândido que
merecem bem mais do que o Leleu estar entre os profissionais. Foi apenas mais uma constatação prévia de um erro.
As
más atuações do time nas últimas partidas são absolutamente irrelevantes e em
nada me preocupam. A falha do planejamento, espero eu, será constatada e
corrigida nessa parada, que, se antes considerava prejudicial, hoje chamo
de providencial. As “Cucadas” do último jogo é que me deixam com uma micro
pulga atrás da orelha, esperando que sejam apenas reflexo do cansaço do próprio
treinador, que deve estar, mentalmente, bem desgastado. O caso das
substituições grotescas do Cuca, que tem crédito, ninguém discute, é mais um
daqueles que não pode se chamar de engenharia de obra pronta e sim bobagem
anunciada. O Vasco da Gama, com todo o respeito que me merece, é um dos piores
times que vi jogar. Sem a menor dúvida hoje é o pior time da primeira divisão,
que só tem camisa, e que, inclusive, pode ter sido salvo pelo Cuca na quarta feira, já que esses três pontos no fim do ano podem salvá-lo da degola. O time
é tão ruim, mas tão péssimo que, ganhando de dois a zero teve como maior
destaque o Michel Alves, goleiro que, apesar de ser um grande frangueiro, como
a maioria dos frangueiros faz contra o Galo, pegou muito.
Era um jogo que se o Galo jogasse com 11
reservas teria grandes chances de vencer. Com o time que entrou em campo,
apesar do gramado ser pior do que um pasto, era quase obrigatório. No primeiro
tempo o Galo, depois de uns 10 minutos se encontrando, dominou a partida. O
Victor foi coadjuvante e o Michel Alves fez boas defesas. O gol não saiu por
detalhe. Era claro que ele sairia naturalmente, era apenas uma questão de
tempo. No intervalo o Cuca fez uma das alterações mais bisonhas que vi. Tirou o
Guilherme para colocar o Alecssandro. Até o mais estúpido dos comentaristas,
que comentava na SporTV anteviu o erro. Tirar o único meia do time, com todas
as restrições ao Guilherme que qualquer um possa ter – e com certa razão,
embora eu não compartilhe -, ele era o único jogador que dava um passe ligando
o meio com o ataque. A bola não chegaria mais na frente e perderíamos o meio de
campo. Não que fosse um erro colocar o Alecssandro. Embora não fosse
necessário, eu também o colocaria. Mas no lugar do Pierre. Sim, do Pierre, mas
só porque ele precisa descansar. Os três volantes do Galo não sabem atuar com
três jogadores ali, ainda mais com Richarlysson jogando com terceiro zagueiro.
O Josué, que estava mal, mas precisa de jogar para melhorar, estava
completamente sem função. Nem o time do meu prédio precisa de ter três volantes
para contar o inoperante ataque do Vasco.
Sofremos o gol e
outro erro percebido por nós de antemão. A entrada do Leleu. O “Máscara” é o
pior jogador que já vi usando a camisa alvinegra, e eu, com perdão da
expressão, já vi muito merda usando o nosso manto. Senti saudade do Curê, do
Luis Mário e até do Uéslei. Nem o básico que é dominar e rolar para o cara do
lado, sendo burocrático, quase um Rafael Miranda, o infeliz consegue. Ele perde
todas as bolas, e já sabemos disso desde 2010. Lembremos que o Morais já havia
rescindido e o Berola nem no banco estava. Por fim, o último erro previsto na
hora que o repórter anunciou: a saída do Marcos Rocha para a entrada de mais um
volante, com o time perdendo. Não fosse a atuação atípica do goleiro
cruzmaltino, o Marcos Rocha seria o melhor em campo. Depois das burradas
anteriores, era o único jogando e municiando o ataque, fazia até o papel de
meia. Que se colocasse o Rosinei, mas não para a saída do Rocha.
Isso era fácil
falar, como falamos, antes de acontecer. Engenharia de obra pronta seria, se
essas loucuras dessem certo, chamar o treinador de gênio. O Galo, porém,
ainda tem crédito. Está longe da crise que querem plantar. O campeonato está
começando e temos um jogo a menos e um foco a mais. Concentração total na
Libertadores. Entretanto, à diretoria fica o sinal amarelo de que precisamos de
mais jogadores para o grupo. Ao Cuca, esse sinal indica que ele tem que olhar
para base e deixar de certas teimosias.