segunda-feira, 15 de julho de 2013

O apagão que incendeia

E de repente fez-se a escuridão.
Não sei se proposital, ou um mero acidente.
Pouco importa.
Do nada, sem saber o porquê, os refletores do Independência se apagaram.
E tiveram  que interromper o jogo.
Um jogo tenso.
Nós, igualmente tensos, não conseguíamos sequer gritar.
O clima todo era tenso.
O ambiente era tenso.

Jogávamos contra o relógio.
Torcíamos contra o relógio.
Ultrapassamos a ideia de torcer contra o vento.
Estávamos torcendo contra o tempo.
Apreensivos, tensos, ansiosos.
O tempo voava. Nossas esperanças e vozes, se converteram em tensão.
Em unhas roídas, orações, promessas, caras de angústia.

Mas fez-se a escuridão.
Inicialmente ficamos mais tensos, sem entender nada.
O peito acelerado, a adrenalina tomando conta do corpo, que já não mais contava com a razão.
Eis então, que na escuridão, uma centelha inflamou.
Percebemos não podíamos deixar o nervosismo tomar conta da gente.
De repente lembramos porque estávamos lá.
De repente, a fé que refletia nas unhas preces e caras perplexas, se transformaram em força.
Força e fé que deviam ser passadas aos jogadores, que deviam entrar em campo.
A estes, apesar da falta de brilhantismo, não faltava vontade.Nunca faltou
De repente, um coro uníssono mandava ao campo, a fé que faltava.

E antes que a luz pudesse se restabelecer, o som ecoou:
“Eu acredito” . E, repetidamente, toda nossa fé foi para nossa garganta.
A luz voltou. Na arquibancada, o silêncio e a tensão atormentadoras, não.
Os rostos angustiados, as orações, as unhas restantes não existiam mais.
Eram apenas 20.000 vozes que, com fé, esperança e coração renovados, criam.
Criam que nada do que aconteceu até então era em vão.
Criam que poderia ser feita a justiça.
Tinham a certeza que, mais do que qualquer outra torcida, mereciam.
Tudo isso traduzido em duas palavras: “Eu acredito”.

E a luz que voltou, tenho certeza, nos iluminou.
A fé que a torcida nutria pelo time, mas não nutria pelo Guilherme, continuava nos gritos.
Continuávamos contra o tempo.
Contra tudo e contra todos.
Eis que, depois do erro do Luan, Mateo errou.
Eis que a bola para no pé do Guilherme.
Eis que nossas esperanças e nossa fé estavam nos pés justamente do mais desacreditado.
Eis que o iluminado, com os pés de milhões de atleticanos, chuta perfeitamente para o Gol.

Ainda era pouco. O suficiente para não perder.
Mas suficiente para explodir o coração alvinegro em comemoração.
O coro uníssono de fé, voltou às arquibancadas.
O juiz apita, mas não para nosso alívio.
Sim para disparar nossos corações ainda mais.
A tensão aumentou. Os batimentos de cada atleticano aumentaram.

Alecssandro e Guilherme, mantiveram nossas esperanças.
Mas as mãos de Victor ainda não nos permitia abandonar a tensão.
Jô, logo ele, o artilheiro da Libertadores, ameaça nossa classificação.
Mas não nossa fé, e os aplausos foram a resposta ao camisa 7.
Já era dramático.
Ficava cada vez mais.
Será que a sorte não estaria ao nosso lado.
Só que a bola do Leproso foi à trave 
De certo, havia algo ao nosso lado. 

Algo que fez o leproso acertar a trave.
Outro desacreditado foi para a bola. 
Um que Não era iluminado como o outro.
E Richarlysson isolou.
O algo que acreditávamos existir, não existia mais.
Era só fé. Não seria possível que teríamos outra chance.
Depois do pênalti contra o Tijuana, do milagre do Rafael Marques, do pênalti do Jô, 
Era contar demais com a sorte. 
Abusamos da sorte. Mas tínhamos fé.

Mas, de certo, havia algo ao nosso lado.
Não sei se nossos olhos, nossa fé, nossa vontade, nossos sopros, mas algo estava conosco. Algo que fez a bola subir.
Inacreditável. Não há outra palavra.
Eis que para a bola vai ele. O craque do time. Ronaldinho Gaúcho.
Não fosse a situação tensa, estaríamos tranquilo. Mas não estávamos.
Já havíamos abusado demais da sorte.

Preocupação em vão. Como craque que é, Ronaldinho deixou a bola lá dentro.
A vez agora era do craque deles. Maxi Rodriguez.
Todos já nos preparávamos para as cobranças alternadas.
Era o craque deles. Joga muito e jogou muito.
Um terço é arremessado ao goleiro Victor por um torcedor.
O goleiro pega o terço. Agradece e o guarda. 
O home de gelo olha nos olhos de Maxi. 
Ele olha de volta.
A bola sai dos pés do argentino...

Victor, São Victor. De novo ele. São Victor.
A tensão, a fé, cada grito, cada oração, a ansiedade... 
Tudo transformado em lágrimas.
Lágrimas de alegria. O inacreditável aconteceu. Yes We C.A.M.
Alegria incontida, alegria comum, democrática.
Emoção contagiante, que fez com o desconhecido ao lado se tornasse seu melhor amigo.

Caiu no Horto tá morto, porque aqui,  aqui é Galo.