E de repente
fez-se a escuridão.
Não sei se proposital, ou um mero acidente.
Pouco importa.
Do nada, sem
saber o porquê, os refletores do Independência se apagaram.
E tiveram que interromper o jogo.
Um jogo tenso.
Nós, igualmente
tensos, não conseguíamos sequer gritar.
O clima todo
era tenso.
O ambiente era
tenso.
Jogávamos
contra o relógio.
Torcíamos
contra o relógio.
Ultrapassamos a
ideia de torcer contra o vento.
Estávamos
torcendo contra o tempo.
Apreensivos,
tensos, ansiosos.
O tempo voava.
Nossas esperanças e vozes, se converteram em tensão.
Em unhas roídas, orações, promessas, caras de angústia.
Mas fez-se a
escuridão.
Inicialmente
ficamos mais tensos, sem entender nada.
O peito
acelerado, a adrenalina tomando conta do corpo, que já não mais contava com a
razão.
Eis então, que
na escuridão, uma centelha inflamou.
Percebemos não
podíamos deixar o nervosismo tomar conta da gente.
De repente lembramos
porque estávamos lá.
De repente, a
fé que refletia nas unhas preces e caras perplexas, se transformaram em força.
Força e fé que
deviam ser passadas aos jogadores, que deviam entrar em campo.
A estes, apesar
da falta de brilhantismo, não faltava vontade.Nunca faltou
De repente, um
coro uníssono mandava ao campo, a fé que faltava.
E antes que a luz
pudesse se restabelecer, o som ecoou:
“Eu acredito” .
E, repetidamente, toda nossa fé foi para nossa garganta.
A luz voltou. Na
arquibancada, o silêncio e a tensão atormentadoras, não.
Os rostos
angustiados, as orações, as unhas restantes não existiam mais.
Eram apenas
20.000 vozes que, com fé, esperança e coração renovados, criam.
Criam que nada
do que aconteceu até então era em vão.
Criam que
poderia ser feita a justiça.
Tinham a
certeza que, mais do que qualquer outra torcida, mereciam.
Tudo isso
traduzido em duas palavras: “Eu acredito”.
E a luz
que voltou, tenho certeza, nos iluminou.
A fé que
a torcida nutria pelo time, mas não nutria pelo Guilherme, continuava nos gritos.
Continuávamos
contra o tempo.
Contra
tudo e contra todos.
Eis que,
depois do erro do Luan, Mateo errou.
Eis que a
bola para no pé do Guilherme.
Eis que
nossas esperanças e nossa fé estavam nos pés justamente do mais desacreditado.
Eis que o
iluminado, com os pés de milhões de atleticanos, chuta perfeitamente para o
Gol.
Ainda era
pouco. O suficiente para não perder.
Mas suficiente para explodir o coração alvinegro em comemoração.
O coro
uníssono de fé, voltou às arquibancadas.
O juiz apita, mas não para nosso alívio.
Sim para disparar nossos corações ainda mais.
A tensão aumentou. Os batimentos de cada atleticano aumentaram.
Alecssandro
e Guilherme, mantiveram nossas esperanças.
Mas as mãos de Victor ainda não nos permitia abandonar a
tensão.
Jô, logo
ele, o artilheiro da Libertadores, ameaça nossa classificação.
Mas não
nossa fé, e os aplausos foram a resposta ao camisa 7.
Já era
dramático.
Ficava cada vez mais.
Será que a sorte não estaria ao nosso lado.
Só que a bola do Leproso foi à trave
De
certo, havia algo ao nosso lado.
Algo que fez o leproso acertar a trave.
Outro
desacreditado foi para a bola.
Um que Não era iluminado como o outro.
E
Richarlysson isolou.
O algo que acreditávamos existir, não existia mais.
Era só
fé. Não seria possível que teríamos outra chance.
Depois do pênalti contra o Tijuana, do milagre do Rafael Marques, do
pênalti do Jô,
Era contar demais com a sorte.
Abusamos da sorte. Mas tínhamos
fé.
Mas, de certo, havia algo ao nosso lado.
Não sei se nossos olhos, nossa fé, nossa vontade, nossos sopros, mas algo estava conosco. Algo que fez a bola subir.
Inacreditável.
Não há outra palavra.
Eis que para a
bola vai ele. O craque do time. Ronaldinho Gaúcho.
Não fosse a
situação tensa, estaríamos tranquilo. Mas não estávamos.
Já havíamos abusado demais da sorte.
Preocupação em vão. Como
craque que é, Ronaldinho deixou a bola lá dentro.
A vez agora era do
craque deles. Maxi Rodriguez.
Todos já nos preparávamos para as cobranças alternadas.
Era o craque deles. Joga muito e jogou muito.
Um terço é
arremessado ao goleiro Victor por um torcedor.
O goleiro pega
o terço. Agradece e o guarda.
O home de gelo olha nos olhos de Maxi.
Ele olha de volta.
A bola sai dos pés do argentino...
Victor, São
Victor. De novo ele. São Victor.
A tensão, a
fé, cada grito, cada oração, a ansiedade...
Tudo transformado em lágrimas.
Lágrimas de
alegria. O inacreditável aconteceu. Yes We C.A.M.
Alegria incontida, alegria comum, democrática.
Emoção contagiante, que fez com o desconhecido ao lado se tornasse seu melhor amigo.
Caiu no Horto
tá morto, porque aqui, aqui é Galo.