Final de
uma partida importante. Em campo, um mentiroso 2x2, pois o placar mais
condizente seria uns 9x2. Um Domingo com um calor insuportável. Líder
contra vice líder do Brasileirão. Fortuitamente, o Fluminense fez o primeiro. O
Galo empatou e virou. Novamente em um lance de sorte, o tricolor empatou. E o
Galo pressionava a equipe carioca de maneira implacável.
O jogo estava
próximo ao fim. A bola fica no pé do Ronaldinho Gaúcho. Do outro lado do campo,
Leo Silva corre atravessando o relvado. Todos pediam mentalmente: “espera o
Leo, vê o Leo passando”. Ele esperou. E, quando no último lance do jogo o impossível acontece, a
bola atravessa da esquerda para direita e o zagueirão, de cabeça, deu a vitória
ao Atlético, você pensa: "é milagre". Milagre que rendeu uma das vitórias mais emocionantes da história.
Em Maio de
2013, no meio de um feriadão, o Galo, após tomar o primeiro, empatava com o
Tijuana por 1x1. Resultado era bom, classificava o Atlético. Mas aos 47 do
segundo tempo, um pênalti contra o Glorioso. Riascos, o melhor do time deles,
correu para bola. Coração parou, mas Victor, com seu pé esquerdo miraculoso,
isolou aquela bola para o alto. Foi daqueles
lances que a gente vê de novo só mais uma vez, para confirmar a cena do
estádio. Depois é até perigoso ficar olhando; vai que no replay a bola entra? Não
é bom testar. E de novo pensamos: "milagre".
Eles acontecem e até os mais céticos passaram a acreditar. Por isso o Horto se
entupiu de gente para a partida contra o Newells, apesar da desvantagem de 2x0. E pareceu que seria fácil quando o Bernard, aos 3 minutos, abriu o placar.
Mas nada é
fácil. E, no finzinho da partida, após apagão e tudo mais, quando a bola morta
é mal rebatida pelo zagueiro nos pés do Guilherme; ele bate para o gol e nós
vemos ela passar pelo único espaço disponível para balançar as redes. Nós
acreditamos. E nesta noite surgiu o bordão.
Contudo, a
noite estava longe de acabar. E apesar de errar três pênaltis, apesar dos
argentinos terem chance de matar o confronto nas penalidades; Victor, trave e
Maxi Rodriguez provou que nossa crença tinha fundamento. De novo ver o replay é
torturante. Você se pega pensando, “caralho, se vai meio centímetro para o
lado, fodeu”. Era mais um milagre.
Na final,
contra o tricampeão Olímpia, outro revés fora de casa. Outro 2x0. No finzinho
os paraguaios perdem um gol sem goleiro. Seria milagre? Estaria escrito? Agora
não tínhamos o Horto, santuário de São Victor. Era no Mineirão lotado que o
teríamos de reverter.
Primeiro
tempo acaba sem gols. E o “Eu acredito” volta à garganta. E era mais que um
grito de apoio. Era uma verdadeira demonstração de fé, porque todos os que
gritavam tinham duas coisas em comum: Era atleticanos e realmente acreditavam.
E no início
do segundo tempo Jô faz o primeiro. Mas o segundo teima em não sair, apesar da
pressão. Victor sai mal, Ferreyra passa pelo goleiro, tenta driblar Réver, mas
escorregou. Isso já no final do jogo. Mais uma vez um milagre? Parece que sim.
Aos 42 minutos Leonardo Silva, em vez de reclamar um pênalti, se levantou para
encostar a cabeça na bola e vê-la entrar, chorando, lentamente, quase sem vontade de entrar. Mas entrou.
Passou a
prorrogação e de novo pênaltis. Dessa vez estivemos sempre na frente do placar
e fomos campeões da América. Era outro Milagre? Poucas vezes vi alguma reprise
daquele jogo, com medo do Ferreyra não escorregar, e com a aflição do
pensamento “porra, e se...”. Só que o "e se" jamais supera o que críamos ser outro milagre.
Na Recopa
Sulamericana, tudo parecia tranquilo. Ganhamos a primeira em Buenos Aires.
Seria tranquilo. Só que nada é fácil. O Galo começou bem, o Lanús virou,
colocou um gol de vantagem, mas no fim, levamos para prorrogação. E na
prorrogação, com direito a gol contra e tudo mais, garantimos mais um caneco; um milagre menor, pensamos, mas ainda um milagre.
Ontem de
novo. No primeiro jogo um resultado injusto trouxe à tona as antigas memórias
pré-libertadores, as memórias do "quase". O placar era difícil de reverter, ainda
mais contra o Corinthians, imprensa, arbitragem e CBF. Ainda
mais tomando o primeiro gol com 4 minutos. Eram mais 86 minutos para fazer
4 gols.
Apesar da
camisa branca, nós acreditamos e tentamos fazer o que dava de fora para que os atletas fizessem o impossível de dentro. Ainda no primeiro tempo,
viramos. Só que, como de praxe, o Galo perdia gols incríveis. Tardelli,
Maicosuel, Carlos... Era muita pressão; a bola só ficava nos pés atleticanos,
embora o Corinthians, quando o Guerreiro pegava na bola, levava algum perigo.
E o time
brigava, lutava, jogava. Independente do placar final, seriam obrigatórios e
merecidos os aplausos aos atletas que honravam a camisa. Faltavam 15 minutos
quando o Guilherme fez o terceiro. Dava. Era possível. Era outro milagre. Faltavam apenas 3 quando o Edcarlos fez o tento faltante
para a classificação. Tínhamos, e fizemos brilhantemente, de segurar por 5
minutos o Bragantino de Itaquera.
A partida
acabou. Classificados, contra tudo e todos. Mais um milagre? Para alguns,
talvez. Para mim, que vivenciei tudo isso in locu, à flor da pele, não. Agora temos certeza: se
para os leigos torcedores de outros times é milagre, para os íntimos atleticanos é simplesmente Galo.