quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Não é milagre. É Galo.

Final de uma partida importante. Em campo, um mentiroso 2x2, pois o placar mais condizente seria uns 9x2. Um Domingo com um calor insuportável. Líder contra vice líder do Brasileirão. Fortuitamente, o Fluminense fez o primeiro. O Galo empatou e virou. Novamente em um lance de sorte, o tricolor empatou. E o Galo pressionava a equipe carioca de maneira implacável.

O jogo estava próximo ao fim. A bola fica no pé do Ronaldinho Gaúcho. Do outro lado do campo, Leo Silva corre atravessando o relvado. Todos pediam mentalmente: “espera o Leo, vê o Leo passando”. Ele esperou. E, quando no último lance do jogo o impossível acontece, a bola atravessa da esquerda para direita e o zagueirão, de cabeça, deu a vitória ao Atlético, você pensa: "é milagre". Milagre que rendeu uma das vitórias mais emocionantes da história.

Em Maio de 2013, no meio de um feriadão, o Galo, após tomar o primeiro, empatava com o Tijuana por 1x1. Resultado era bom, classificava o Atlético. Mas aos 47 do segundo tempo, um pênalti contra o Glorioso. Riascos, o melhor do time deles, correu para bola. Coração parou, mas Victor, com seu pé esquerdo miraculoso, isolou aquela bola para o alto. Foi daqueles lances que a gente vê de novo só mais uma vez, para confirmar a cena do estádio. Depois é até perigoso ficar olhando; vai que no replay a bola entra? Não é bom testar. E de novo pensamos: "milagre".

Eles acontecem e até os mais céticos passaram a acreditar. Por isso o Horto se entupiu de gente para a partida contra o Newells, apesar da desvantagem de 2x0. E pareceu que seria fácil quando o Bernard, aos 3 minutos, abriu o placar.

Mas nada é fácil. E, no finzinho da partida, após apagão e tudo mais, quando a bola morta é mal rebatida pelo zagueiro nos pés do Guilherme; ele bate para o gol e nós vemos ela passar pelo único espaço disponível para balançar as redes. Nós acreditamos. E nesta noite surgiu o bordão.

Contudo, a noite estava longe de acabar. E apesar de errar três pênaltis, apesar dos argentinos terem chance de matar o confronto nas penalidades; Victor, trave e Maxi Rodriguez provou que nossa crença tinha fundamento. De novo ver o replay é torturante. Você se pega pensando, “caralho, se vai meio centímetro para o lado, fodeu”. Era mais um milagre.

Na final, contra o tricampeão Olímpia, outro revés fora de casa. Outro 2x0. No finzinho os paraguaios perdem um gol sem goleiro. Seria milagre? Estaria escrito? Agora não tínhamos o Horto, santuário de São Victor. Era no Mineirão lotado que o teríamos de reverter.

Primeiro tempo acaba sem gols. E o “Eu acredito” volta à garganta. E era mais que um grito de apoio. Era uma verdadeira demonstração de fé, porque todos os que gritavam tinham duas coisas em comum: Era atleticanos e realmente acreditavam.

E no início do segundo tempo Jô faz o primeiro. Mas o segundo teima em não sair, apesar da pressão. Victor sai mal, Ferreyra passa pelo goleiro, tenta driblar Réver, mas escorregou. Isso já no final do jogo. Mais uma vez um milagre? Parece que sim. Aos 42 minutos Leonardo Silva, em vez de reclamar um pênalti, se levantou para encostar a cabeça na bola e vê-la entrar, chorando, lentamente, quase sem vontade de entrar. Mas entrou.

Passou a prorrogação e de novo pênaltis. Dessa vez estivemos sempre na frente do placar e fomos campeões da América. Era outro Milagre? Poucas vezes vi alguma reprise daquele jogo, com medo do Ferreyra não escorregar, e com a aflição do pensamento “porra, e se...”. Só que o "e se" jamais supera o que críamos ser outro milagre.

Na Recopa Sulamericana, tudo parecia tranquilo. Ganhamos a primeira em Buenos Aires. Seria tranquilo. Só que nada é fácil. O Galo começou bem, o Lanús virou, colocou um gol de vantagem, mas no fim, levamos para prorrogação. E na prorrogação, com direito a gol contra e tudo mais, garantimos mais um caneco; um milagre menor, pensamos, mas ainda um milagre. 

Ontem de novo. No primeiro jogo um resultado injusto trouxe à tona as antigas memórias pré-libertadores, as memórias do "quase". O placar era difícil de reverter, ainda mais contra o Corinthians, imprensa, arbitragem e CBF. Ainda mais tomando o primeiro gol com 4 minutos. Eram mais 86 minutos para fazer 4 gols.

Apesar da camisa branca, nós acreditamos e tentamos fazer o que dava de fora para que os atletas fizessem o impossível de dentro. Ainda no primeiro tempo, viramos. Só que, como de praxe, o Galo perdia gols incríveis. Tardelli, Maicosuel, Carlos... Era muita pressão; a bola só ficava nos pés atleticanos, embora o Corinthians, quando o Guerreiro pegava na bola, levava algum perigo.

E o time brigava, lutava, jogava. Independente do placar final, seriam obrigatórios e merecidos os aplausos aos atletas que honravam a camisa. Faltavam 15 minutos quando o Guilherme fez o terceiro. Dava. Era possível. Era outro milagre. Faltavam apenas 3 quando o Edcarlos fez o tento faltante para a classificação. Tínhamos, e fizemos brilhantemente, de segurar por 5 minutos o Bragantino de Itaquera.

A partida acabou. Classificados, contra tudo e todos. Mais um milagre? Para alguns, talvez. Para mim, que vivenciei tudo isso in locu, à flor da pele, não. Agora temos certeza: se para os leigos torcedores de outros times é milagre, para os íntimos atleticanos é simplesmente Galo.