quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Sangue campeão

Nem todos os craques são campeões. Nem todos os campeões são craques. Existem alguns jogadores, por mais que seja odiados pelos torcedores, naturalmente campeões. Não sei se é instinto, faro, luz divina. Mas são jogadores campeões por onde passam, independentemente da qualidade técnica. Às vezes eles fazem diferença fora de campo, no vestiário, não sei como explicar, mas esse tipo de jogador existe.

Existe e são importantes, de um modo ou outro para o time. Alguns por serem decisivos, outros por crescerem monstruosamente nas partidas decisivas, sendo simplesmente frios e até aqueles que tornam bom o clima no vestiário. Podemos até não querê-los titulares, mas não podemos dar o luxo de não tê-los no elenco. Óbvio jogadores vêm e vão, aos poucos a idade chega, o custo benefício pesa, mas é sempre bom ter um desses no elenco.

Alguns vão querer me expurgar da Terra, mas o Atlético campeão dos últimos anos tinha esse tipo de jogador, alguns, até execrados pela torcida. Um time vencedor, como este Atlético, se faz de jogadores com gosto pelos títulos, e que têm conquista nas veias. Não é de raça que estou falando é algo a mais, sobrenatural mesmo. Muitos conquistaram isso no Atlético, como o Donizete, Leo Silva, Pierre... Pensem na carreira deles antes de chegarem ao Galo e no tamanho das conquistas que tiveram.

Outros vieram para cá assim, sendo fundamentais para, de uma maneira ou outra, passar esse algo para os outros. O Victor e o Réver, por exemplo, foram campeões da Copa do Brasil com o Paulista de Jundiaí. O Dátolo já havia ganhado de tudo um pouco com o Boca e o Tardelli, ainda que no banco, com o São Paulo.

Esses são os exemplos de jogadores que hoje são indiscutíveis. Contudo, existem outros cuja importância acaba sendo esquecida por várias razões e que têm esse algo a mais no sangue. Não são jogadores essenciais ao jogo, mas talvez seja essenciais ao elenco, aquele cara que você pode ter no grupo, mesmo que seja só para tocar pandeiro.

Começando pelo que saiu, o Richarlysson é um pouco assim. Gostem ou não, foi campeão com o São Paulo, foi campeão com o Atlético e, apesar de muitos não admitirem, teve participação importante, tanto na conquista da vaga direta, quanto na própria Libertadores. Não foi fundamental, obviamente, mas teve sua importância. Hoje, evidentemente, não dá mais para ele, mas há de se reconhecer o valor de sua carreira.

O segundo desses jogadores é o Edcarlos. O zagueiro, que até vem tendo uma passagem nota 6, foi simplesmente campeão do mundial de clubes. Não é um primor e eu admito que fui contra sua contratação e ainda hoje me assusto quando ele é escalado, mas não vamos esquecer, no apagar das luzes do Mineirão, era ele quem estava ali para marcar o quarto gol contra o Corinthians.

O último, porém, é o jogador do Atlético cuja alma campeã é a mais evidente. Não é nem nunca foi um gênio. Não é para ser titular. O custo benefício, até pela idade, já não é tão bom. Mas devemos agradecê-lo sim por sua passagem no Galo. Afinal, no banco ou em campo, são raros os jogadores que, como ele, crescem nas horas decisivas.

Me lembro quando ele chegou ao Galo, um amigo de São Paulo, são paulino, em uma viagem que fiz para lá, quando soube de sua contratação disse: “cara, jogadoraço.” Não é para menos. Ele foi campeão da Libertadores com o São Paulo, campeão do mundo com eles; disputou uma copa do Mundo; foi capitão e dono do Wolfsburg da Alemanha.

No Galo não era titular. Nem tinha de ser. Mas era o toque de experiência que faltava ao time do Cuca. E, apesar das críticas, não há como esquecer as horas decisivas nas quais ele cresceu como um monstro. Na semifinal da Libertadores, contra o Newells, no Independência foi avassalador. Na final contra o Olímpia no Mineirão idem. Recentemente, na primeira partida da final da Copa do Brasil, voltou a jogar muita bola.


O Josué não é mais o jogador regular que foi no São Paulo. Hoje ele costuma guardar as boas atuações para as horas de decisão. Não é um craque, mas tem seu valor. Até acho que seu custo benefício, pela idade, principalmente, pode ficar alto e é justo não renovar o contrato. Entretanto, e sei que muitos vão crucificar, temos de reconhecer seus momentos no Galo, um grande jogador para o grupo e que, certamente, terá muita serventia para onde for.