segunda-feira, 8 de junho de 2015

Foi dia de Maria

Embora difícil de entender, é bem fácil explicar a derrota do Atlético no sábado contra o fraquíssimo time do Cruzeiro. Fomos pegos pelo mesmo erro que tanto se repete do outro lado da Lagoa: a arrogância. O Atlético perdeu porque entrou de salto alto, com a impressão de que ganharia o jogo quando e como quisesse. Depois do primeiro gol a impressão virou certeza absoluta. O Galo jogou como se estivesse jogando contra o Mamoré. 

E perdeu pontos preciosos: em casa para um time muito fraco que, se não contratar e mudar muito, não vai brigar por absolutamente nada no Brasileirão. E o Galo, modéstia às favas, com time para brigar seriamente pelo título. O problema é que os jogadores acreditaram cegamente nisso. Acreditaram tanto que sábado simplesmente não houve jogo. O Cruzeiro, fraquíssimo, com três jogadores que realmente prestam: Fábio, Alisson e Gabriel Xavier – este último ainda a se confirmar – entrou com o claro propósito de não perder. O Galo, jogando contra o Mamoré.

O Atlético ficou 12 jogos sem perder para o Cruzeiro e em todos eles o adversário jogou melhor do que jogou sábado. O Atlético, nem se fala. A partida foi ruim, péssima. Um festival de erros e levou quem errou menos. Era jogo para empate, zero a zero daqueles de dar calo nos olhos. E, não fosse o Patric, voltando a ser Patric, seria 1 x 1. O Cruzeiro entrou para não jogar, ficar recuado como time pequeno e empatar. Também, com Willians, Marquinhos e Willian não dava para tentar nada além disso mesmo. Prova disso é que o melhor jogador do Atlético, o que se salvou, foi o Rafael Carioca. E o do Cruzeiro? Quem se destacou? Quem jogou bem? Todos chegaram ao seu limite, muito além de seu limite, na verdade. E mesmo assim o melhor jogador do time foi o goleiro.

Mas o salto do Galo era tanto que, no primeiro tempo, até o 1 x 1 o Luan tocou todas as bolas, simplesmente todas, de calcanhar, como se fosse o Sócrates. E sabemos que o Luan só é o Luan quando ele é doido, intenso e simples. Quando ele acha que é o Maradona, com o perdão da palavra, fode tudo. O Cruzeiro deu um gol para o Atlético. Gol achado. E o salto só fez aumentar. Clássico, 1 x 0 e os caras dando toquinho no meio de campo. Em uma dessas gracinhas entre Patric, Giovanni Augusto e Luan, o Cruzeiro chegou pela única vez em uma jogada tramada e o Victor fez uma grande defesa. Aliás, Giovanni Augusto joga muita bola, mas não é jogador para clássico. Falta raça e vibração, é tipo um Everton Ribeiro: jogador que joga o clássico do mesmo jeito que joga qualquer outro jogo...

Enfim, com a vantagem no marcador, o Atlético poderia ter matado o jogo. Mas a soberba fez o Carlos, em vez de finalizar, tentar um toquezinho ridículo na cara do Fábio e chutar para fora. Depois ele tropeçou nas próprias pernas em uma disputa com o Bruno Rodrigo. O Dátolo, depois, em vez de cabecear uma bola para o meio da área, praticamente recuou pro Fábio, em um dos poucos cruzamentos acertados pelo Galo. Mais uma vez os cruzamentos. Todas as bolas que iam para dentro da área deles era Deus nos acuda, mas os jogadores do Atlético, quase que invariavelmente, cruzam errado.

E no fim do primeiro tempo, em uma jogada morta, mais do que morta, gol contra do Jemerson e o Atlético deu o primeiro gol para eles. Começo de segundo tempo e o Galo continuava certo de que venceria a partida tranquilamente quando quisesse. Era como se para eles a derrota, mesmo o empate, fosse um resultado impossível. E, bem na minha frente, o Patric deu uma de Patric. Sozinho com a bola na defesa, na lateral direita, ele tenta o drible. Um drible que só ele, em seu mundo paralelo, acreditou que poderia dar certo. Primeiro porque ele driblou para o meio da área. Segundo, jogando a bola para seu pé ruim. Terceiro porque tentou um drible de uns 5 km de distância. Ali, amigo, se vai driblar, dribla para ponta, para o lado do seu pé bom. Se der errado, o cara tá na lateral do campo e você inteiro na jogada, nem que para fazer a falta. Para o meio, se você perde, o atacante fica na cara do gol e você entre fazer o pênalti e rezar para o cara errar o gol.

A reação do Patric e do Leo Silva após o lance deixaram ainda mais nítidos para mim que eles continuavam certos de que o 2 x 2 era uma questão meramente de relógio. O time perdia, mas não acelerava os lances, tocava pacientemente a bola, com uma frieza irritante. E o adversário todo atrás do meio de campo, tentando heroicamente, mesmo jogando mal, manter uma vitória sobre um time infinitamente superior. Mesmo assim, sem nenhum primor de raça ou de técnica. Contava muito mais com a soberba e incompetência atleticanas.

Então, o Giovanni Augusto entrega o terceiro gol. Naquele momento, finalmente, os jogadores do Galo cogitaram como real a hipótese de não ganhar o jogo. Pior. Cogitaram ideia de perdê-lo. Mas já era tarde e aí foi bumba meu boi e desespero.

Sábado o Cruzeiro não mereceu ganhar o jogo. Entretanto, o Galo certamente mereceu perder. Mereceu muito. O time, por soberba pura, não jogou. Não entrou em campo. Sábado foi dia de Maria porque o Galo deixou que fosse, porque o Atlético não se comportou como Atlético, porque encarou o fato de ser melhor da pior maneira possível: com autossuficiência e soberba. Indiscutivelmente, não foi o Cruzeiro que ganhou o clássico, o Atlético que o perdeu.


Que sirva de lição, que sirva para os jogadores entenderem que o Atlético só é o melhor time quando é um time operário. E que mesmo times horríveis, fazendo partidas pífias, podem ganhar se entregarmos as vitórias para eles. E que quarta, contra o Santos, outro time bem mais fraco que o Galo, entremos sabendo que só ser o melhor não vale nada e que no futebol nem sempre o melhor vence.