segunda-feira, 13 de julho de 2015

O casamento

Sábado à noite. Eram mais ou menos 19:30. Eu, contrariado, colocava a gravata. Acertava seu nó e os últimos detalhes para ir ao casamento do meu primo, marcado para 20:30. Quem marca um casamento para o dia e a hora do jogo do Galo?! Mas não tinha jeito. Desconfortável com a roupa, vestido como pinguim e com pesar na alma, fui ao casamento. Evidentemente, o fone de ouvido estava de prontidão.

Porra era jogo do Galo! Os noivos já me fizeram colocar terno e sair da minha casa no dia e hora do jogo do Galo! E não era para ir ao estádio! Não tinham direito de me condenar pelo fone. Mas, mesmo assim, cumprimentei os noivos sem mostrar o fone, meu porto seguro naquela noite.

Eram quase 20:30. Faltavam cerca de 30 minutos para o início da partida e, obviamente, não havia como ligar o rádio do celular durante a cerimônia. Tinha de deixar tudo pronto. Fone plugado no celular, fio escondido pelo terno, junto com o telefone, estrategicamente posicionado no bolso interno do paletó. Passei o fio por trás da orelha, ainda do lado de fora da igreja, testando a eficiência e a descrição da parafernália. Perfeito. Som claro, fone quase desapercebido. Entrei na igreja. Vi os parentes e conhecidos e fui para o lado oposto da igreja, afinal, não queria que ninguém me recriminasse pelo fone.

Sentado sozinho em um canto perto da parede, passei a ouvir o pré-jogo. Percebi que não era necessário ficar ouvindo aquilo, havia como deixar o fone de maneira discreta fora da orelha e só posicioná-lo na hora em que a bola rolasse, o rádio, evidentemente, tinha que permanecer ligado. Ótimo. Ouvi os primeiros trinta minutos da cerimônia com os olhos no relógio. Faltando cinco minutos para o início do jogo, o fone para o lugar certo: dentro do meu ouvido. A partida, então, começou.

Eu suava. Não há como não suar ouvindo a partida no rádio. Não tenho ideia do que foi dito na cerimônia a partir de então. Concentrava meus esforços em não demonstrar o que sentia com o jogo e em acompanhar quem estava ao meu lado: se levantasse, eu ficava em pé. Quando sentava, eu fazia o mesmo. Simples assim. Bom, como era o local apropriado, comecei a rezar para o gol não sair. Ao menos não durante a celebração, porque não sei se aguentaria me conter.

Notei que os “Sims” haviam sido ditos. Os noivos iriam conduzir os convidados à recepção, em um salão dentro da própria igreja. Eu, que nem sabia disso, fui para o lado de fora. Escutar o jogo, afinal minha obrigação de discrição havia se encerrado, e meu casamento com Galo já tem quase 30 anos. Tinha de dar uma assistência. Não se brinca com uma paixão de quase 30 anos. De toda sorte, as minhas preces supracitadas foram atendidas. Quando eu saí, a bola também saiu. Escanteio. E, poucos segundos depois, gol do Galo. Realmente não me contive e no estacionamento da igreja gritava:
               
- Aqui é Galo, porra!

Meu pai, um dos padrinhos do casório, passou nesse exato momento pela porta da igreja e, vendo minha vibração, já perguntou:

                - Gol? Agora?
                - Nesse segundo!
                - Quem?
                - Thiago Ribeiro.

Parecia realmente que o Galo estava só me esperando sair da Igreja para marcar.

Não demorou, fui informado que na recepção não haveria problemas em estar com o fone. Mais uma ou duas pessoas também estavam. Todos os atleticanos que conhecia, além de todos os garçons, vieram me perguntar o resultado e pediam que lhes mantivessem informados. Os rivais, quando viam os sorrisos em nossos rostos, demonstravam em seus rostos apreensão. E a palavra é essa mesmo: apreensão.

Intervalo. O fone voltou ao bolso do paletó, mas o assunto em todas as rodas de conversa era o jogo. 

                - Como está o jogo?
                - Quem fez o gol?
                - O time tá bem?

Esclarecidas as dúvidas, estávamos confabulando sobre as possibilidades do Atlético de levantar a taça em 2015. Começa o segundo tempo, e o fone volta ao ouvido. Não conseguia ficar quieto. Rodava o salão, ia para o estacionamento, qualquer coisa para aliviar o estresse...

A vontade de ir embora, ir a um bar próximo ver o jogo, qualquer coisa do tipo aumentava. Todos no local estavam com o mesmo desejo. Então decidimos ir para casa. Ouvindo,claro, o jogo pelo rádio, onde o sufoco é bem maior. Onde cada posse de bola do adversário no meio de campo parece um pênalti.

Faltando poucos metros para chegar em casa, com o  coração já na boca, gol do Galo. Todos no carro gritaram. Não estivesse o motorista gritando junto, certamente se assustaria. Mas foi muito bom, muito alívio. Saí de casa, de terno, e ainda perdi o jogo. O mínimo que poderia receber de troco era uma vitória! Cheguei em tempo de ver apenas vi as entrevistas e os melhores momentos na televisão.

Na madrugada, porém, aproximadamente 1:00 da manhã de Domingo, o VT foi transmitido. E, então, assisti. Foi um casamento feliz.

Quanto ao jogo, o que posso dizer é que o Giovanni Augusto é excelente jogador. Quando não está afim de jogo, com preguiça e sem raça, não é jogador para o Atlético. Mas, sei lá o que o Levir falou para ele, mas, com a disposição e a raça que tem demonstrado depois de duas partidas de dar dó contra Santos e Cruzeiro, ele tem tudo para ser um dos caras deste campeonato.