Sábado à noite. Eram mais ou
menos 19:30. Eu, contrariado, colocava a gravata. Acertava seu nó e os últimos detalhes
para ir ao casamento do meu primo, marcado para 20:30. Quem marca um casamento
para o dia e a hora do jogo do Galo?! Mas não tinha jeito. Desconfortável com a roupa, vestido como pinguim e com pesar na alma,
fui ao casamento. Evidentemente, o fone de ouvido estava de prontidão.
Porra era jogo do Galo! Os noivos
já me fizeram colocar terno e sair da minha casa no dia e hora
do jogo do Galo! E não era para ir ao estádio! Não tinham direito de me
condenar pelo fone. Mas, mesmo assim, cumprimentei os noivos sem mostrar o
fone, meu porto seguro naquela noite.
Eram quase 20:30. Faltavam cerca
de 30 minutos para o início da partida e, obviamente, não havia como ligar o
rádio do celular durante a cerimônia. Tinha de deixar tudo pronto. Fone plugado
no celular, fio escondido pelo terno, junto com o telefone, estrategicamente
posicionado no bolso interno do paletó. Passei o fio por trás da orelha, ainda
do lado de fora da igreja, testando a eficiência e a descrição da parafernália.
Perfeito. Som claro, fone quase desapercebido. Entrei na igreja. Vi os parentes e conhecidos e fui para o lado
oposto da igreja, afinal, não queria que ninguém me recriminasse pelo fone.
Sentado sozinho em um canto perto da
parede, passei a ouvir o pré-jogo. Percebi que não era necessário ficar ouvindo aquilo, havia como
deixar o fone de maneira discreta fora da orelha e só posicioná-lo na hora em que a bola
rolasse, o rádio, evidentemente, tinha que permanecer ligado. Ótimo. Ouvi os primeiros trinta
minutos da cerimônia com os olhos no relógio. Faltando cinco minutos para o
início do jogo, o fone para o lugar certo: dentro do meu ouvido. A partida,
então, começou.
Eu suava. Não há como não suar
ouvindo a partida no rádio. Não tenho ideia do que foi dito na cerimônia a
partir de então. Concentrava meus esforços em não demonstrar o que sentia com o
jogo e em acompanhar quem estava ao meu lado: se levantasse, eu ficava em pé.
Quando sentava, eu fazia o mesmo. Simples assim. Bom, como era o local
apropriado, comecei a rezar para o gol não sair. Ao menos não durante a
celebração, porque não sei se aguentaria me conter.
Notei que os “Sims” haviam sido
ditos. Os noivos iriam conduzir os convidados à recepção, em um salão dentro da
própria igreja. Eu, que nem sabia disso, fui para o lado de fora. Escutar o
jogo, afinal minha obrigação de discrição havia se encerrado, e meu casamento com Galo já
tem quase 30 anos. Tinha de dar uma assistência. Não se brinca com uma paixão de quase 30 anos. De toda
sorte, as minhas preces supracitadas foram atendidas. Quando eu saí, a bola
também saiu. Escanteio. E, poucos segundos depois, gol do Galo. Realmente não
me contive e no estacionamento da igreja gritava:
- Aqui é Galo,
porra!
Meu pai, um dos padrinhos do
casório, passou nesse exato momento pela porta da igreja e, vendo minha
vibração, já perguntou:
-
Gol? Agora?
-
Nesse segundo!
-
Quem?
-
Thiago Ribeiro.
Parecia realmente que o Galo
estava só me esperando sair da Igreja para marcar.
Não demorou, fui informado
que na recepção não haveria problemas em estar com o fone. Mais uma ou duas
pessoas também estavam. Todos os atleticanos que conhecia, além de todos os
garçons, vieram me perguntar o resultado e pediam que lhes mantivessem
informados. Os rivais, quando viam os sorrisos em nossos rostos, demonstravam
em seus rostos apreensão. E a palavra é essa mesmo: apreensão.
Intervalo. O fone voltou ao bolso do paletó, mas o assunto em todas as rodas de conversa era o jogo.
Intervalo. O fone voltou ao bolso do paletó, mas o assunto em todas as rodas de conversa era o jogo.
- Como está o jogo?
- Quem fez o gol?
- O time tá bem?
Esclarecidas as dúvidas, estávamos confabulando sobre as possibilidades do Atlético de levantar a taça em 2015. Começa o segundo tempo, e o fone volta ao ouvido. Não conseguia ficar quieto. Rodava o salão, ia para o estacionamento, qualquer coisa para aliviar o estresse...
Esclarecidas as dúvidas, estávamos confabulando sobre as possibilidades do Atlético de levantar a taça em 2015. Começa o segundo tempo, e o fone volta ao ouvido. Não conseguia ficar quieto. Rodava o salão, ia para o estacionamento, qualquer coisa para aliviar o estresse...
A vontade de ir embora, ir a um
bar próximo ver o jogo, qualquer coisa do tipo aumentava. Todos no local estavam com o mesmo desejo. Então decidimos ir para casa.
Ouvindo,claro, o jogo pelo rádio, onde o sufoco é bem maior. Onde cada posse de bola
do adversário no meio de campo parece um pênalti.
Faltando poucos metros para
chegar em casa, com o coração já na boca, gol do Galo. Todos no carro gritaram. Não estivesse o motorista
gritando junto, certamente se assustaria. Mas foi muito bom, muito alívio. Saí
de casa, de terno, e ainda perdi o jogo. O mínimo que poderia receber de troco era uma vitória! Cheguei em tempo de ver apenas vi as
entrevistas e os melhores momentos na televisão.
Na madrugada, porém, aproximadamente
1:00 da manhã de Domingo, o VT foi transmitido. E, então, assisti. Foi um
casamento feliz.
Quanto ao jogo, o que posso dizer
é que o Giovanni Augusto é excelente jogador. Quando não está afim de jogo, com
preguiça e sem raça, não é jogador para o Atlético. Mas, sei lá o que o Levir
falou para ele, mas, com a disposição e a raça que tem demonstrado depois de
duas partidas de dar dó contra Santos e Cruzeiro, ele tem tudo para ser um dos
caras deste campeonato.