quarta-feira, 24 de abril de 2019

Em tópicos

Disse que saímos fortalecidos do mineiro, e saímos mesmo. No entanto, da Libertadores, saímos muito enfraquecidos, muito mais pelo acúmulo de decepções ao longo do ano do que necessariamente pela fatídica noite de ontem. São vários os pontos a serem analisados, mas o que me incomodou um pouco foi a falta de paciência e consciência de que recomeçamos do zero, de que a partida de ontem não foi efetivamente o problema, mas o reflexo de um longo período sem trabalho. 

A hora era de ter calma, entender que a classificação havia sido desperdiçada antes, talvez ter ganhado o clássico de sábado desse essa tranquilidade. As cobranças, inclusive, foram, de certo modo, e entendam que digo devido ao momento à evolução da última semana, desmedidas. O que quero dizer é que não era a hora de aumentar a crise, e até, apesar de achar exagerado nos adjetivos - tanto para mais quanto para menos - compreendi, em partes, o que disse Léo Silva. Digo mais, embora tenha a plena consciência que o trabalho agora é pensar em 2020, nem tudo está perdido. A Sul-americana é uma realidade e pode ser a redenção deste ano. 

De toda forma, ontem no Mineirão, já pensava em escrever tópicos fundamentais, seria mais fácil assim. No caso da vitória ou do empate, dois ou três, no caso da derrota e das reações que vi, este número aumentou de forma que não consigo nem fazer o título antes de acabar o texto. Agradando ou desagradando, aqui vão eles:


LEVIR FOI TARDE
Apesar da derrota, o time foi muito mais organizado. Como disse ontem no Twitter meu amigo Victor Villafort, se o jogo de ontem fosse lá na época da Pré-libertadores, a expectativa para o ano seria boa. Mas não era. Já estamos quase em maio. Levir não só foi incapaz de treinar e dar um padrão ao time, como destruiu absolutamente tudo - e não foi pouca coisa - o que fez o Thiago Larghi. Ele recebeu uma semente de time organizado e entregou uma terra arrasada quase infértil. É óbvio que o Rodrigo Santana, ou qualquer outro, não conseguiria, em tão pouco tempo, transformar o deserto em um pomar. 

Particularmente, eu mandaria o Levir embora após a Pré-libertadores, naquele jogo ridículo contra o Defensor. No mais tardar, entendo que ele cumpriu o objetivo de passar dos dois uruguaios, após o jogo contra o Cerro, em que ele, inexplicavelmente, repetiu a escalação da partida em que o Galo, até então, tinha tido o pior desempenho do ano e justificou dizendo que era necessário insistir para dar certo (eu, como todos nós, fiquei sem entender o porquê não insistir com a escalação com os melhores desempenhos àquela altura, enfim).


GEUVÂNIO CHEGOU TARDE (ao menos para a Libertadores)
Meu pai disse ontem durante o jogo: "se o Galo estivesse jogando o mesmo que jogou sábado, faria 4 x 0 no primeiro tempo". Havia, porém, para eu que fui aos dois jogos no estádio, uma grande diferença: Geuvânio. Ele é o homem certo para o Galo porque ele faz uma coisa que só ele faz no time: vai para dentro dos caras e GANHA. O Maicon Bolt errou tudo, não ganhou uma bola do lateral. O time ficava preso, porque faltava o drible, característica muito bem demonstrada pelo camisa 49, que foi um dos melhores jogadores do clássico e é o cara capaz de fazer a diferença e quebrar as linhas defensivas. O Galo deveria ter buscado um acordo para trazê-lo a tempo de jogar a Libertadores, mas, certamente será titular absoluto deste time


CÁZARES BÊBADO, CIRRÓTICO, EM COMA OU DE RESSACA JOGA MAIS QUE TODOS OS OUTROS MEIAS DO GALO JUNTOS
Sem o Cázares o Galo fica absolutamente sem criação e saída de bola. Ontem tentaram o Luan neste papel e, claramente, não é a dele. Faltava aquele passe profundo, aquele lampejo e até a movimentação típica de um meia. Para falar a verdade, até a "displicência" do equatoriano fez falta. Na bola, por exemplo, rebatida pelo goleiro fora da meta nos pés do Luan, o Menino Maluquinho, com medo de errar, dominou e tentou o passe. Se é um cara como o equatoriano, coloca para o gol de primeira, sem muito medo da reação da torcida. Aliás, muitos jogadores do Galo tiveram medo de arriscar, não os culpo. A pressão é grande e poucos aguentam o tranco. De fato, se há uma vantagem em ter jogadores meio displicentes é que eles não tem medo nenhum de errar. Além, disso, insisto, a dinâmica de movimentação e toques curtos que ele dá ao time e aos companheiros, mesmo jogando mal, é muito diferente dos outros da posição.


A CONTA ONTEM É DO OLIVEIRA
Não é justo colocar a culpa na eliminação ontem, nisso concordamos plenamente. Mas, Ricardo Oliveira teve a bola do jogo duas vezes e não marcou. Centroavante nenhum (muito menos um experiente de 39 anos) pode ter duas bolas do jogo e não matar. O Fábio Santos teve uma grande chance, mas o cara é lateral-esquerdo e a bola veio na direita, mal ou bem é um atenuante. Ricardo Oliveira é o camisa 9. No primeiro tempo, o goleiro veio deslizando no chão, ele teve tempo e espaço de sobra para encobri-lo, driblá-lo, mas chutou em cima do arqueiro. Ele errou o gol, quase nenhum mérito do goleiro. No segundo, ele assustou com a bola dentro da pequena área! A bola bateu nele e saiu. Isso, para um camisa 9, é simplesmente inaceitável.


FALTA CONFIANÇA
O time, nitidamente, sente falta de confiança e medo de errar. Bolas que são para arrematar, os caras tocam. Lances para driblar, não tentam. Os caras simplesmente não arriscam, medo das vaias e da pressão. Um dos caras que mais sentiu isso foi o Guga. Bolas claras e ele "telegrafa o passe", bolas rifadas, muito passe de lado. Futebol é confiança, e o medo de errar é um dos piores problemas que um jogador de futebol pode enfrentar.


FALTOU COMPREENSÃO E ATÉ JUSTIÇA DA TORCIDA
As críticas e reclamações da torcida, obviamente, não estão relacionadas ao jogo de ontem. Até porque, tomando por base apenas o cotejo desta terça, a grande maioria das reclamações e críticas foram, no mínimo, sem sentido. Os pedidos de raça e vergonha, por exemplo, não faziam sentido para aquele jogo específico. Já cansei de falar aqui que a tal raça é uma entidade divina que toda as vezes que o torcedor não consegue explicar o que acontece, ele pede. Os caras correram, se mataram, mas pagaram o preço da desorganização total desde o início do ano. O time tomou o gol aos 87 minutos quando, de fato, estava no tudo ou nada, e tinha de ser assim. Com relação aos jogadores criticados, outras injustiças - insisto, tomando por base os três últimos jogos. Basta falar que os melhores em campo foram Elias, Fábio Santos e Chará. Três, vaiados e que, aliás, também foram bem nos clássicos. Os três correram, não fugiram do jogo e tentaram.


A ZAGA É UM CAOS. NÃO IMPORTA O ZAGUEIRO

O problema da zaga do Galo não são os zagueiros. É o posicionamento e isto está diretamente relacionado aos treinamentos. Todos os zagueiros do Atlético têm mais de 1,90 e não ganham uma bola aérea. Isso é falta de treino. Não acreditem vocês que posicionamento é um dom, porque não é. É treinamento. O sistema defensivo do Galo é uma máquina de moer zagueiros e que o Rodrigo Santana tentou e que o próximo treinador terá de fazer é começar seu trabalho por ali, na zaga.


PACIÊNCIA E TRABALHO
Rui Costa chegou agora. Precisamos de dar tempo ao cara e, espero eu, que o presidente tenha dado a ele 100% de liberdade para trabalhar e fazer suas escolhas. É preciso ter consciência que o trabalho é de médio e longo prazo e que precisa, sobretudo, de confiança, estabilidade e tempo. Repito, Cuca perdeu os 6 primeiros jogos com o Galo e ainda tomou de 6 das Marias. Foi contrato em 2011, ganhou o Mineiro em 2012 e a Libertadores em 2013. Minhas primeiras opções de treinador seriam Coudet e Becaccece. Mas isso é o que menos importa. O que importa é a convicção em um modelo, ou uma filosofia. Contratar por contratar não faz sentido. 

Neste ponto, pelo menos ao que parece, a diretoria está sendo coerente. Traçou um perfil de jogo. Tentou o Tiago Nunes, depois o Ceni. São caras diferentes, óbvio, todos somos, mas têm estilos e ideias de jogo semelhantes. O que não dá para fazer é sair atirando para todos os lados: tenta o Tiago Nunes, depois o Celso Roth, depois o Alberto Valentim, aí não dá e traz o Givanildo... Caras com ideias de jogo que em nada combinam uma com a outra, ou seja, só querem alguém para ocupar o cargo e dá satisfação. Discorde ou não da filosofia, ao menos parece que existe uma: querem treinadores modernos, que gostam de times ofensivos e com posse de bola. 

Com o nome definido, é hora de ter paciência e assumir a bronca, como fez o Kalil com o Cuca em 2011. Estou certo de que o Nepomuceno e Sette Câmara teriam demitido o cara que viria a ser campeão da Libertadores. Da mesma forma que estou convencido de que Kalil não demitiria Aguirre, Roger ou Larghi. Dirigente, e espero que o Rui Costa o seja, tem que ser racional e entender de futebol. Vou aqui, mais uma vez, relembrar o Kalil. No Bola da Vez, da ESPN Brasil, quando perguntado o porquê ele demitiu o Roth após 6 derrotas, mas manteve o Cuca nas mesmas circunstâncias, o atual prefeito disse: "no caso do Roth, via uma regressão no trabalho. As coisas não funcionavam mais. No do Cuca, via evolução nos treinos, sabia que precisaria de tempo". 

É isso. Sampaoli, perdeu do Ituano por 5 x 1. Continua sendo treinador dos Santos e, aos poucos, vai dando uma cara ao time. A lógica é: contrata o cara dê tempo, segura a bronca, protege das crises, assume a responsabilidade. Aqui, vou parafrasear o que disse uma vez o Igor Assunção da 98: confia no cara e deixa trabalhar independentemente dos resultados. Se o time estiver agarrado na zona de rebaixamento, quando você percebe claramente que "ou troca ou caí" (tipo o Luxa em 2010), aí tudo bem. Caso contrário, espere e dê tempo ao tempo, quando acabar o campeonato você define se o TRABALHO está sendo bem feito e pode dar frutos.
 
O time do Atlético está longe de ser a desgraça que pintam, mas não há trabalho, não identidade e não há comando. Não é um time que mói jogadores, mas uma diretoria que não aguenta ser escudo dos treinadores. Agora é a grande oportunidade para recomeçar do zero. Temos uma parada para Copa América, temos de focar em 2020 e, quem sabe, beliscar uma Sul-Americana, que seria um puta lucro. Não podemos, porém, é criar falsas expectativas de sermos campeões brasileiros em 2019, nem a diretoria pode alimentá-las como fez no ano passado. Tem que jogar limpo: estamos pensando em 2020.


É HORA DE ABRAÇAR O TIME

A pior coisa que podia acontecer ao Galo é a estreia do Brasileirão ser em casa. Com essa impaciência e essa crise, se der 5 minutos de jogo e o Galo não fizer um gol, a pressão vai começar, o time vai enervar e vai complicar tudo. É hora de jogar junto e apoiar, pressionar pode significar uma derrota catastrófica. Esquecer tudo, afinal a camisa que está lá é o manto sagrado.