domingo, 19 de maio de 2019

Aqui é Galo, porra!

Não poderia ter tido um roteiro melhor para virar chave. Um jogo com a cara do Galo, contra tudo e contra todos, com muita raça e amor, com o coração na ponta da chuteira, para provar que a camisa pesa, para recuperar a confiança dos jogadores e, sobretudo, para voltar à sintonia com os torcedores e críticos.

Insistia aqui, quem me acompanha sabe, que muitas vezes considerava as críticas ao time um pouco mais pesadas do que deveriam. Não faltou, em nenhum momento, raça ao Atlético, faltava organização, faltava técnica, faltava o armador, faltava confiança. Raça não. Fez o que pôde contra o Palmeiras (jogo que deveria ter sido no Horto e, talvez, essa chave fosse virada semana passada), encarou de igual para igual no primeiro tempo. Foi, em âmbito geral, melhor do que o Santos na quarta-feira, sobretudo  no segundo tempo com a entrada do camisa 10.

O time está claramente evoluindo e, de fato, após terras arrasadas, o melhor é sempre começar pela defesa, que está muito melhor a cada jogo que passa. O ataque e a falta de confiança eram as questões preocupantes. Mas, como disse após o jogo de quarta, existem dois Atléticos neste sentido: um com, e outro sem Cázares. Mesmo quando está mal, ele muda a dinâmica do time, porque toca de primeira, movimenta como um armador, acerta pelo menos um ou outro passe incrível e tem uma certa indolência que, se por vezes aborrece, permite uma frieza na cara do gol que dá inveja.

Vamos falar a verdade, 90% dos jogadores teriam chutado aquela bola rápido, para não sofrer com a torcida. Cázares não liga para isso. Se ele errasse, o mundo desabaria sobre ele, mas quem disse que ele liga? Então, o cara consegue ter a frieza para fazer um gol genial. É fato que antes disso, o Flamengo atacou mais. O que não significa que o Atlético estava mal, estava muito consistente defensivamente e ameaçava em contra-ataques. Todos sabíamos que seria um jogo difícil, que o elenco dos caras é muito bom, e que um sofrimento seria normal.

O Rodrigo, diferentemente do Levir, estuda os adversários. Sabia o ponto fraco do Flamengo: a saída de bola. Obviamente, nenhum time aguenta fazer marcação alta o jogo todo. E o time do Galo parecia saber quando fazê-la. Digo, porque no estádio era claro: uma sinalização de um dos atacantes e todos subiam em bloco. Mais que isso: cada um sabia qual posição pressionar.Em uma dessas, com participação fundamental do Ricardo Oliveira, o Galo fez o primeiro gol, e que gol. Era a hora de segurar, mas o Atlético sofreu o gol rápido, uma das poucas falhas defensivas, embora ache que seja mais mérito do Bruno Henrique. 

No entanto, ao contrário até do que imaginei, o time não se abalou. Continuou jogando bem. Contra tudo e todos. No primeiro lance do jogo, o Bruno Henrique deu um carrinho criminoso no Luan, mas nesta hora não tem VAR. O Elias fez uma falta dura, que, poderia até ser para expulsão, mas o critério do juiz até então não permitia a ele essa revisão. Mas, sabemos como as coisas funcionam contra o Flamengo. Acabamos o primeiro tempo com um a menos.

Já comentávamos: o empate não é tão ruim assim. E tinha a certeza de que seria difícil jogar o segundo tempo. Mas o treinador mostrou a diferença entre treinador e motivador. Rodrigo Santana não só mexeu no time, organizou a defesa como justificou toda sua estratégia de forma clara na entrevista. Ele precisava recompor o meio, tirou o centroavante e colocou o Adilson. Como bem dito por ele na coletiva, não seria possível ficar retrancado 45 minutos. Então, ele começou o segundo tempo atacando o ponto fraco do Flamengo: a defesa. Pressionada, ela entregava. E em um desses lances, Chará, com um chute de rara felicidade, fez o segundo.

Com um a menos no campo e um a mais no marcador, imaginei que era a hora de recuar. Mas não foi, ao menos não de cara. Chará e Cázares fizeram partidas excelentes e nos primeiros minutos após o segundo gol, o Atlético soube segurar a bola no ataque e marcar pressão o Flamengo. No entanto, era óbvio que isso não duraria o segundo tempo todo, mas, como Rodrigo Santana disse, isso era previsto e fazia parte da estratégia.

Enquanto o Galo enervava o Flamengo com sua competência e organização defensiva, o juiz enervava o Galo. Se o Elias merecia ser expulso, o que falar do Aarão? A entrada criminosa no Guga não rendeu nem amarelo e nessas horas, o VAR não existe. O pior, o cara caído, desmontado no chão e, mesmo com a bola tendo saído pela lateral ele não parou o jogo. Vale lembrar que após o choque de CABEÇA que desnorteou o Réver e o tirou de campo, ele também não fez nem menção em parar a jogada. Por outro lado, em um lance bobo, o jogador do Flamengo caiu e o soprador de apito simplesmente parou um contra-ataque atleticano.

Estava na cara: tínhamos que jogar contra o juiz. Gabigol chutou o chão e ele deu falta. Amarelou meio time do Galo, enquanto o Flamengo não teve nenhum cartão. Todas as bolas alçadas na área atleticana era motivo para o VAR vasculhar um pênalti para o Flamengo. No primeiro, ele não deu porque seria muita bizarrice. No segundo, após o tempo de acréscimo já ter acabado, ele, doido pelo empate, deixou o Flamengo bater um escanteio. Após o lance ficou uma vida buscando o pênalti. Tentou de todas as formas, mas seria muito absurdo. E, vendo que não era noite dos Mulambos, acabou o jogo.

O Atlético, se doou, todos deram a alma em campo, não dá para criticar ninguém. Guga, apesar do drible que levou no gol do Flamengo, marcou bem e apoiou. Aliás, não há quem discutir nesta defesa. Partidas perfeitas de Réver, Léo Silva, Rabelo e, pasmem, até do Patric do meio para trás.

No meio de campo, diferentemente do que vimos na partida do Palmeiras, os volantes brigaram por cada espaço de campo como se fosse um prato de comida. Luan, um capítulo a parte de raça e dedicação. Um torcedor em campo, e Deus sabe como ele suportou até o final. Chará e Cázares, além de talentosos na hora de marcar os gols, seguraram e se doaram o quanto puderam. Até carrinho o camisa 10 deu. Outro capítulo a parte foi o Victor. Voltou a ser o Santo. Aos 44 do segundo tempo, uma bola chutada e desviada, entrando no cantinho… Deus sabe que da arquibancada já víamos aquela bola entrando. Mas, graças ao milagre do Victor, ela saiu. Para mim, aquela defesa foi como a do pênalti do Tihuana ou como a virada sobre o Corinthians na copa do Brasil: o lance que definiu a vitória. Ali sabíamos que o jogo era nosso.

Estava claro que cada jogador do Atlético sabia perfeitamente o que significa um Atlético e Flamengo, maior clássico interestadual do país. A rivalidade e o sangue nos olhos, a raça, o suor e as lágrimas deixadas em campo. Mais: ao ver a reação dos jogadores ao fim do campo, tive mais certeza ainda de que os atletas se doaram ao máximo, estão fechados e que lutam, lutam até o fim. É, de fato, como um pequeno título, uma vitória épica, que representa exatamente o que é o Atlético: pode não ganhar, pode não encantar, mas nunca se entregar. Isso não faz do time favorito ao Brasileiro.

Isso não faz do time uma máquina, mas, espero eu, que faça os desacreditados voltarem à sintonia fina com o time, porque, de uma coisa estou certo: não sei até onde o time pode chegar, mas sei que eles se entregaram e se doaram ao máximo para chegarem até onde puderem.

Aliás, a calhar. Com a visita do Jorge Jesus, um jogo como este é muito bom. Que treinador, ao ver uma entrega dessas, não teria vontade de treinar os caras? Só posso agradecer pela entrega, pela vitória e dizer: aquilo que vi ontem é o Galo. Se foi despertado pela arbitragem tendenciosa, pela genialidade do Cázares, pelo Rodrigo Santana ou pelo Rui Costa, eu não sei. Mas sei que ontem eu vi o Galo em sua plenitude, em sua alma.

Isso é Galo, porra.