quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Tudo errado. De novo




Depois nas notícias que ouvi hoje cedo, não quero nem falar sobre o jogo. Aliás, somente uma coisa sobre o jogo: se o Allan ou o Nathan convertem os pênaltis, o trabalho deixaria de estar todo errado?

Nesse período comandando o Atlético o Sette Câmara demonstrou duas coisas: a primeira é a total falta de convicção: troca de treinador como troca de roupa, seguindo a escola Nepomuceno. A diferença (que não é necessariamente uma vantagem) é que o Daniel era populista o tempo inteiro. O Sette Câmara é impopular e usa os treinadores de escudo para não aumentar sua rejeição já absurdamente alta.

A segunda coisa demonstrada é que ele não entende nada (e estou segurando para não escrever nenhum palavrão) de futebol. Vamos lá, até onde eu sei, ele, pessoalmente, foi conversar com o Dudamel, enquanto o Rui Costa conversava com o Sampaoli... Ou seja, se era para alguém assumir essa bronca, em tese, era ele, ou não era?

Mas esse era só um detalhe. Não é isso que me faz crer que ele não entende de futebol. Apesar de discordar e não entender algumas convicções do treinador venezuelano, não era a hora de demiti-lo. Primeiro ponto é que estão cobrando algo simplesmente desumano, que irá acontecer com o próximo treinador: um milagre. Não se desfaz, por mais que se contrate bons nomes, uma série de três anos de erros e de quase 6 anos de mudanças de treinadores constantes em um mês e pouco e 30 treinos.

E, mais que isso, é reconstruir em terra arrasada, porque o Mancini deixou foi terra literalmente arrasada. Aliás, nenhuma espinha dorsal decente o Atlético tinha. Basta ver que, mesmo dos jogadores que já estavam aí ano passado, poucos atuavam regularmente. O Michael, Guga e Otero eram reservas, Jair passou o segundo semestre machucado. Dá para falar que os dois que se mantiveram foram Réver e Igor Rabello.

Para se ter uma ideia, ontem foi a estreia do Savarino, um jogador caro, com bom potencial e que foi indicado pelo treinador. Tardelli nem jogou. O Atlético ainda está em busca de nomes no mercado. Especula-se o Rafael para ser o goleiro. Ou seja, é trocar pneu com carro andando

Repito, obviamente não concordava com todas as decisões do venezuelano (e nem vou concordar com a de nenhum treinador. O Cuca mesmo foi muito contestado quando optava pelo Richarlysson em vez do Júnior César), mas certas coisas precisam ser repensadas no futebol, principalmente nos dirigentes, que devem parar de se comportar como torcedores de arquibancada. 



Muita gente foi contra a escalação de três zagueiros ontem. Quem fala isso é jogador de videogame que acha que uma mudança de peça e o time todo já entende o que tem que fazer. A escalação de três zagueiros é (e era ontem) fundamental. Primeiro porque é uma formação que deve ser testada repetidamente, afinal, aparentemente é a que mais vai combinar com esse time do Atlético. Foi quando tivemos o melhor desempenho. Além disso, e só cego não vê, Guga e Arana não são Patric e Fábio Santos. Os dois primeiros atacam bem, mas não defendem nada, absolutamente nada. Os dois últimos o contrário. “Ah mas era o Afogados”. É nessa hora que se testa.

Isto posto, por mais bisonho que seja, o treinador foi mandado embora na hora que o time mostrava, ainda que tímida, certa evolução. Apesar dos resultados não satisfatórios, os três melhores jogos do Atlético foram contra Caldense, Unión e ontem. Nos dois que não ganhamos, falhas individuais terríveis foram cruciais ao resultado. Contra a Caldense, o José Welison, que virou banco, entregou. Contra o Afogados (quando tomamos gols em momentos de superioridade do Atlético), no primeiro gol, o Maidana (que estava jogando porque o Réver não podia atuar) e o Michael (esse assim, desconhecendo, claro as verdadeiras condições do Victor, uma opção do treinador que discordo); e, no segundo gol do Arana (que ofensivamente mandou duas na trave e ainda participou dos gols). Ou seja, o que treinador podia fazer?

E como atleticano adora comparar, vamos pegar o Tiago Nunes. O Corinthians já foi eliminado da Libertadores, ontem empatou no paulista com o Santo André. A torcida já chia, mas a diretoria o mantém no cargo. Aliás, até o Vasco, com o Abel, e o Fluminense, com o Maionese, tem mais convicção que o Atlético. Na verdade, dos gigantes, só o Botafogo se iguala na falta de peito para bancar treinador. Cara, até o Bahia sustentou o Roger... Falar o quê?

Dos treinadores recém-chegados em seus clubes, o único com resultados relativamente satisfatórios é o Coudet no Inter. Mas com duas diferenças cruciais: a primeira é que ele foi contratado antes do fim do Brasileirão, teve mais tempo de se planejar. A segunda é que, mal ou bem, o Inter manteve uma espinha dorsal. No Galo, que foi bem ao mercado (e agora presidente?), o treinador teria que recomeçar do zero, montar um novo time sem suas principais referências. Nem o Guardiola consegue. Aliás, o Klopp passou quatro anos no Liverpool, podendo gastar a rodo, sem ganhar nada.

O único exemplo um pouco fora da curva no Brasil foi o Flamengo do Jorge Jesus. Mas aí, de novo, há, evidentemente, as nuances que nessas horas ninguém se lembra: 1 – ele teve a Copa América inteira para treinar. 2 – Ele tinha uma máquina. 3 - Recebeu reforços que estavam vindo da Europa, ou seja, não precisariam de pré-temporada.

Parabéns aos envolvidos por mais essa cagada. E já alerto: o processo com o próximo diretor/treinador será exatamente o mesmo. E dê graças aos céus se vocês encontrarem alguém idiota o suficiente para querer entrar nessa máquina de moer gente.