quinta-feira, 4 de junho de 2020

E essa tal austeridade?


Quando Sérgio Sette Câmara assumiu a presidência do Atlético, seu léxico se resumia à uma palavra: AUSTERIDADE. Era austeridade para cá, austeridade para lá, mas que austeridade é essa que só faz aumentar as dívidas do clube?

É evidente ser impossível dissociar isso das gestões anteriores, mas parece, no mínimo, ingênuo isentar completamente a gestão “austera” do atual presidente de responsabilidade pelo rombo financeiro do Atlético. E tudo começa com a criação de uma falsa expectativa e, por conta disso, a assunção de uma responsabilidade cretina, burra e impossível de ser praticada.

Todos gostam de pegar o Flamengo como exemplo. Peguemos então os Mulambos. Mesmo com possibilidades de receitas e mídia infinitamente superiores às do Galo, ao falar em austeridade, o presidente Bandeira de Melo pediu paciência aos torcedores, disse que passariam algum tempo sem ganhar para se reerguerem fortes no futuro. A torcida compreendeu o recado e, por acidente, até levou a Copa do Brasil 2013, mas aquilo foi fruto do acaso.

Por aqui, Sette Câmara defendeu o impossível: títulos em tempos de contenção. Vítima do acaso, o Galo até conseguiu ficar um tempo no topo da tabela do Brasileiro de 2018, contando com o Roger Guedes em uma fase absurdamente iluminada, mas, como era de se esperar, voltou ao bloco intermediário.

Paralelamente, o presidente brincou de gastar dinheiro. Como em uma banca de Las Vegas, apostou, apostou, apostou e apostou. Mal. Começando pelo Alexandre Gallo, uma contratação absolutamente non-sense. Junto, uma série de jogadores que custaram muito e renderam pouco, além, claro, de terem custado muito. Alguns, diga-se, nem ouso falar se são bons ou ruins. O que dizer do Martin Rea? Se você falar que ele é ruim, gostaria de saber: baseado em que?
Outros, é verdade, boas contratações, mas fora de propósito tendo em vista a situação de austeridade e contenção financeira. O Chará, por exemplo, foi uma boa contratação. Mas, em tempos de apertar os cintos, não se contrata um cara de 7 milhões de dólares... Até os caras que vieram se "custo", foram caros. Veja quanto ganhava e quanto quer na justiça o "craque" Maicon Bolt...

Já falei uma vez do Kalil que peixe morre pela boca, à época era sobre uma promessa de cereja do bolo. O Sette Câmara, mesmo falando menos, consegue ser insuperável no quesito. Quando um presidente fala pouco a gente espera dele ponderação. O que se vê é que o Sérgio Sette Câmara fala pouco, e só fala asneira. Ele só aparece com medidas e ideias impopulares, que distanciam a torcida do time. Não dá uma dentro… Mas voltemos à austeridade…

Quando criou expectativas irreais com o projeto que tinha em mãos, além de abandonar a austeridade e inflamar um nível de cobrança desnecessário na torcida, o presidente se viu obrigado a abandonar suas convicções e projetos (se é que os teve). Treinadores incontáveis (dois - Larghi e Santana - pagaram pelo próprio sucesso, ou seja, começaram tão acima da expectativa que pagaram caro quando chegaram na normalidade). Um, Dudamel, não teve tempo para trabalhar. Se houve problema de relacionamento, também é problema da diretoria: o Otero está no elenco, conhece a personalidade do cara. Alguém perguntou a ele? Porque todos que acompanhavam o trabalho dele na Venezuela (imprensa local, especialistas em futebol sul-americano) diziam que o Dudamel era um cara difícil.

Mas esse não foi o maior dos pecados. Há pouco tempo, Sette Câmara cunhou o verbo cruzeirar. No entanto, a verdade é que a austeridade foi para o saco por causa do Cruzeiro do Itair Machado e suas cruzeiradas

Enquanto acontecia tudo o que citei no Galo, do outro lado da Lagoa o Cruzeiro gastava e esbanjava. Fora de Minas TODOS, absolutamente TODOS os canais de imprensa prenunciava a grande notícia do século XXI. Eu, logo que o Itair assumiu, falei com meu pai: esse cara vai acabar com o Cruzeiro. O sucessor dele tá na bosta. Só não imaginei que seria antes do mandato acabar…

Enfim, voltando à cronologia, enquanto fora de Minas a profecia da semi-extinção do Cruzeiro se ecoava, aqui diziam ser inveja, ser bairrismo porque o Cruzeiro conseguia desbancar o eixo, e ainda cobravam o mesmo desempenho do Galo. E isso se refletiu na torcida e em uma consequente pressão na diretoria. Sobretudo com o bicampeonato (a base do doping financeiro) que eles ganharam na Copa do Brasil. Pouco se relativizou a arbitragem em Cruzeiro e Santos, Cruzeiro e Chapecoense, o futebol pobre e as más campanhas do Brasileirão. Eles ganharam os dois títulos, enquanto isso, o Atlético era coadjuvante. Como? Isso nunca foi pauta em Minas antes da Gabriela Moreira e Rodrigo Capello. Enquanto muitos no Rio e São Paulo, talvez até movidos por inveja, urravam o óbvio.

O resultado administrativo no Galo desses títulos questionáveis do Cruzeiro foi o pior possível: endividamento para montar times capazes de ser campeão, mas sem competência para fazê-los. Em suma, gastaram muito e gastaram mal. Se entupiram de dívidas e não conquistaram NADA. E esse ano, vexativamente, os mata-mata já se foram. E, sempre que se aventava para a realidade financeira do Galo o assunto virava na hora: estádio. Sempre que se pergunta de um gasto: Rubens Menin e Ricardo Guimarães bancam… Almoço grátis não existe. Nesta semana, com salários atrasados, o time anunciou dois reforços. Vocês acham que isso tem como dar certo? Imagina como se sentem os jogadores...

Como alívio, diferentemente de muitos dos clubes Brasileiro, o Atlético tem um patrimônio capaz de saldar suas dívidas. De imediato, o Diamond. Ele seria capaz de quitar todas as pendências não tributárias do Atlético, ou seja, (bem) mais de 50% do que devemos.
O meu único questionamento é: há como garantir judicialmente que, em caso de uma venda do Diamond, a verba vá toda para quitar débitos anteriores? Porque para esses caras venderem o patrimônio e torrar o dinheiro (ainda que seja com jogadores) não custa. Aí, ficamos sem dinheiro e sem patrimônio, ou seja, fode tudo de vez.