sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Lições de um Mineirão vazio

A vitória quarta-feira foi espetacular, mas falar sobre isso é engenharia de obra pronta. Com muito esforço, arrumei uns minutinhos para escrever sobre o Galo, então, não quero perder o meu tempo com o óbvio. 

Mas só para não dizer que não falei nada, o resumo para mim é: a virada do Galo não foi incrível. Incrível foi ele ter começado perdendo de 2 x 0. 


E tendo isso em vista, quero convidar a todos nós, torcedores atleticanos, a uma reflexão, polêmica, mas que, certamente, as gerações que acompanharam o Galo dos anos 90, antes de Libertadores e Copa do Brasil, vão entender. Convido-os pela pergunta: se tivesse público, o Galo viraria? 


Ninguém, evidentemente, sabe a resposta. O que posso (quase que) garantir é que, se virasse, encontraria muito mais dificuldade em fazê-lo. E eis o grande questionamento: qual o nosso papel? 


Vendo o jogo em casa, o primeiro tempo foi absolutamente injusto. Como disse, o anormal não foi a virada, mas o Corinthians, em 3 chutes fazer 2 gols, enquanto o Galo chutou, sei lá, umas 15.  


Mas o lado passional, nessas horas, nos cega. Já tinha gente no Twiiter falando: “o time só joga um tempo, tomara que jogue o segundo”... O time jogou muito bem no primeiro tempo e, por contingência sofreu dois gols. Imagine o estádio. Imagina o antigo Corneta na Veia Black.  Por isso apelei aos meus companheiros de estádio nos anos 90: quem viveu aqueles tempos de vacas magras, sabe como o perfil da torcida mudou depois das glórias de 2013 e 2014.


Fato é que na quarta, o clima ficaria todo favorável aos Gambás. Estou certo de que o Guga, que se recuperou na segunda etapa e até fez uma assistência, não conseguiria mais jogar: a cada vez que encostasse na bola, as vaias silenciariam o Mineirão. Não que eu estivesse feliz com o lance, mas, por princípio, jamais vaiei ou vaiarei jogador usando o manto sagrado alvinegro, tampouco o time, antes de o juiz apitar o encerramento da partida


E na volta para o segundo tempo, Hyoran. O twitter choveu em críticas. Eu mesmo, segundos antes do gol, preparava uma - ele seria apenas um detalhe, minha crítica seria ao Keno - e porque não sacá-lo em vez do Marquinhos. Eis que o Keno pega a bola, começa a jogada, que para no Guga. O lateral cruza e o Hyoran domina e guarda.


Será que, com o estádio lotado, essa calma para se recuperar seria possível? Será que o Hyoran entraria sem uma chuva de gritos de "burro", ou mesmo sob vaias? 


Jogar em casa, meus caros, é uma faca de dois gumes. Quando tudo vai bem e você está ganhando, é lindo. Quando erra e o mundo desaba em você, você pede à Deus para o jogo acabar logo ou para ser tele transportado para a Lua.  A torcida, nessas horas, atrapalha. 


O Galo é muito melhor que o Corinthians, foi infinitamente superior - nos 90 minutos- , por isso, até acho que, mais cedo ou mais tarde, empataria e viraria o jogo. Mas certamente, não seria com tanta rapidez ou facilidade. 


Diante disso tudo, eu faço um pedido, especialmente quando pudermos voltar às arquibancadas: confiem no Galo, confiem no Dom Sampa. O Galo vai perder, vai empatar, vai ganhar. Mas confiem no cara. Ele sabe o que faz. Não xinguem antes do jogo acabar, porque melhor ser engenheiro de obra pronta do que atrapalhar a execução da obra.