segunda-feira, 22 de março de 2021

E o projeto?




Não sei se é algo do ser humano ou só do brasileiro, mas temos uma mania desgraçada de sermos autorais. Nunca, ou quase nunca, pensamos em dar continuidade às coisas boas dos nossos antecessores. Temos a necessidade de querer começar tudo do zero, mesmo que não tenhamos necessidade.

Sinceramente, acho isso de uma burrice inexplicável. É muito mais fácil pegar algo bom e aprimorá-lo, dar a ele os seus toques do que começar do zero sem necessidade. Claro, quando as terras estão arrasadas, é necessário refazer tudo, quando elas não estão, é só preciosismo.

E o meu receio com o Galo atual é o preciosismo personalista dessa diretoria. Eles, inclusive, exercem tal postura dentro de uma zona de conforto que não se vê há anos: não temos adversários ou rivais. Sendo claramente absoluto no estado, a pressão diminui e a margem para o erro é maior. E tudo na vida tem dois lados: se por um, em médio longo prazo, ter essa margem traz tranquilidade para a implementação de um projeto sem pressão de resultadismo, por outro, em mãos erradas, pode virar acomodação. Da mesma forma que um rival bem-sucedido pode ou te puxar para cima, ou te fazer meter os pés pelas mãos, como fez o Sette Câmara após os dois títulos do Cruzeiro da Copa do Brasil.

Temos a faca e o queijo na mão: temos dois anos de vantagem do ex-maior rival, temos investidores/mecenas dispostos a tornarem o Galo uma potência nacional, mas não podemos, por conta disso, esquecer o projeto e fazer as coisas nos conformes.

Sette Câmara passa longe de ser o melhor presidente do Galo, mas também está longe de ser o pior e algumas das coisas que ele iniciou e começaram a ser bem-sucedidas foram reiniciadas, sem muito sentido. Não vou falar do Mattos, até acho que neste caso, não houve nenhum prejuízo grande de qualidade. Mas, sinceramente, as saídas do Chávare e do Leandro Zago são simplesmente inexplicáveis. Chávare foi o maior acerto do último mandato e implementou uma nova filosofia que, em curto prazo, começou a dar frutos.

Outro ponto que não encaixa na minha cabeça é a volta do Cuca, muito mais por um mito Sebastianista do que por qualquer outra coisa. Não vou entrar no extracampo, porque aqui não é o lugar. Vamos ficar exclusivamente no futebol. À parte os setoristas e caça cliques que vibram com o retorno da mamata em Vespasiano, qual a lógica futebolística na contratação do Cuca? O Atlético foi terceiro colocado do Brasileirão, a três pontos do campeão, vocês acham que precisava recomeçar a filosofia de jogo do zero?

Eu, sinceramente, acho que não. Nisso vejo, inclusive, muito mérito do Lucas Gonçalves que manteve a ideia basilar do Sampaoli e começou a implementar algumas coisas novas. No primeiro jogo do Atlético do Cuca, houve uma mudança completa e total na forma de jogar: voltamos com os dois volantes (e ele pediu o retorno do Zé Welison) e apenas um meia. Em determinado momento do jogo, a posse de bola do Galo era quase igual à do Coimbra.

Espero e torço muito para dar certo, mas a minha preferência era por um treinador que tivesse um estilo mais parecido com o de Sampaoli jogar. Mas agora está contratado, é hora de torcer e, quem sabe, que ele reveja alguns conceitos, como colocar apenas um volante para o Zaracho jogar, voltar com o Guga e o Rafael...

Mineiro é para isso mesmo: testar. Até porque, o elenco do Atlético para o Campeonato Mineiro é até sacanagem. Ganharia o campeonato com os reservas, passando, talvez, um aperto contra o América – e mesmo assim eu tenho dúvidas. Vamos ter, inclusive, a chance de repetir os 9 x 2 no Cruzeiro.

A nós, torcedores, cabe continuar torcendo, consumindo o Galo e provando aos investidores que o dinheiro deles está bem empregado. E aos dirigentes que mantenham o projeto, que tenham convicção, ainda que sejam diferentes das minhas.

Até porque, com o estilo de Sampaoli ou o do Cuca, o elenco do Atlético tem caixa para ganhar títulos grandes este ano.