Seria errado dizer que o Atlético
é o meu primeiro amor. Porque ao dizer isso estaria pressupondo que não nasci
atleticano. Atleticano não vem de berço, vem de útero.
Os fetos comuns chutam e ouve. Os
atleticanos, além disso, gritam Galo. Grito que levam para sempre, que move uma
massa, que inebria todo um estado. Tenho amigos de fora de MG que se espantam com
um fenômeno natural para gente. Por isso, a primeira coisa que faço com eles em
um bar, como debute, é propor um teste:
“ Solta um copo de vidro no
chão”
Você que já esteve em BH sabe
exatamente o que acontecerá em seguida. Não vou estragar a surpresa de quem ainda
não veio.
Um fato indiscutível é que nós,
atleticanos, precisamos ser estudados. Mas seria inútil, afinal, há coisas que a
ciência simplesmente não consegue explicar. A paixão do atleticano é uma delas.
E, com quase 35 anos, 33 de estádio, falo sem o menor medo de errar: não são nos
bons momentos que o amor se prova. São nos maus. É naquele rebaixamento em que
carregamos o time no colo, em que, com lágrimas nos olhos, cantávamos o hino a
plenos pulmões. Ao ponto de eu ouvir na ESPN naquela noite alguns jornalistas
dizerem duas coisas: uma é que caiu de pé. E a segunda é que ali já tinha
subido.
Há pouco tempo, o João Guilherme,
cuja mãe é alvinegra, e narrou tanto o rebaixamento quanto o título da Libertadores
(em ambos eu também estava lá), disse que compreendeu a paixão do atleticano naquela
partida fatídica contra o Vasco. https://www.instagram.com/tv/CATgaCVFxyg/
E carregamos aquele time nas
costas para voltar, porque nunca foi milagre, sempre foi Clube Atlético
Mineiro. Na saúde ou na doença. O Galo me fez sofrer, chorar, sorrir, me
extasiar de alegria. Cada segundo torcendo para o Galo é um alívio. Te faz
esquecer os problemas, te faz sair da cama, te faz sentir vivo.
Até porque o mundo não começou
ontem e quem tem mais ou menos a minha idade sabe que torcer para o Galo nunca
foi só alegria. Passamos tempos sombrios, mas nós somos atleticanos, se torcemos
contra o vento, não vão ser meras crises e administrações ruins que vão nos
derrubar.
O Atlético é gigante porque somos
gigantes. Porque ele é a nossa a vida. Sério, vocês conseguem imaginar o que
seria de vocês se naquele 25.03.1908, no Parque Municipal, aquelas almas
iluminadas não tivessem fundado o Galo?
Eu não.
Por isso, hoje, no aniversário de
113 anos, eu só posso dizer ao Galo uma coisa: muito obrigado! Obrigado por ser
parte da minha vida, da minha identidade, por todas as alegrias e tristezas,
por me fazer sentir vivo...
Ser atleticano, não se explica,
se sente. E isso não tem preço.
E o vento? O vento perdeu mais
uma!